Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

A cena do queijo

Ontem fui ao Serra Shopping na Covilhã. Não em passeio domingueiro, mas por razões bem precisas: comprar uma placa de expansão USB 2.0 para o PC. By the way, aproveitei para trabalhar. Trabalhar? Perguntarão os mais imprevidentes. Sim, observar os outros. Começando pelas famílias completas, com prole, às praticamente, ainda sem ela, às em vias, com ou sem reservas à vista. Depois o típico cinquentão de bigode, agarrado discretamente a uma brasileira a quem o bacano ofereceu trabalho em "serviços domésticos", tratou da papelada no SEF e na IGT, sustenta com uns chequezinhos passados sobre a conta da empresa, para pasmo do fisco, e a moça, claro está, não se fez rogada: "fominha como lá no sertão é qui não, cara". Também alguns vagamente conhecidos do Liceu da Guarda, agora convenientemente circunspectos na sua roupagem conjugal, mas deixando escapar um ar enfastiado quando ela não resiste a mais uma montra, seguindo-se um olhar implorativo ao pobre diabo, literalmente preso pela braguilha, para, num assomo magnânimo, liberal, aligeirar a carteira em troca de mais um trapinho para a sua "Lurdes". Os grupinhos de mulheres de meia idade a admirar os electrodomésticos na Worten, numa acesa disputa a ver quem descobria a maior pechincha, numa excitação muito semelhante à da assistência a um show de strip tease masculino. Alguns representantes da burguesia local, tradicionalmente estúpida e arrogante. Os pestaninhas serranos, com penteado à jogador de futebol (esqueçam o Paulo Bento), lançando a fateixa, muito, mas muito discretamente, ao mulherio mais desprevenido. Uma loira (?) irritante a fazer boquinhas ao namorado, tipo criança mimada e encantadoramente perversa, à minha frente numa fila onde fui obrigado a permanecer durante 10 minutos para a tômbola dos prémios. Mas também gente com ar urbano e despreocupado, que vai "ali", mas não é "de ali", que cintila de outra forma e cujas noites deverão ser muito mais interessantes do que os dias. E pronto, lá me despachei. Foi mesmo divertido.

4 comentários:

  1. Gil,

    A Província sufoca. A Estranja escraviza. Escreve, escreve, escreve...não deixes isso passar sobre ti mas tu passarás sobre isso.

    André

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  2. Se vivesses há 130 anos, já estarias a escrever "As Farpas", depois de uma jantarada no Tavares, com o Eça e o Ramalho...Continua.

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  3. Também nem tanto! Só referi ao de leve o ambiente que poderia suceder numa qualquer cidade pequena, onde existe um pacto social imemorial que preserva a mentira e adocica a verdade.

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  4. Deixa lá Gil, eram zombies disfarçados. Há-os em todo o lado.

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