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terça-feira, 17 de outubro de 2006

Basta!

Ouvi agora Teixeira dos Santos, ministro das Finanças, em declarações à Antena 1. Para justificar o agravamento do IRS para quem é solteiro, contemplado no Orçamento de Estado, lá perorou sobre o que ele apelida de injustiça fiscal, pelo facto de os solteiros ficarem beneficiados no IRS face aos casados. Vendo bem, o assunto podia-se resolver através de uma boa futebolada. Os que ganhassem, em vez da receberem a Taça, que per sua mao menor coomya ou coleyta peyten, como diriam sumariamente os bravos monarcas afonsinos.
Ora, diz ele que esta alegada carga fiscal imposta aos casados funciona como um desincentivo à criação de família. Atente-se à linguagem. Se em vez de família dissesse emprego, ou empresas, ou pecuária, o enunciado mantinha-se. O economicismo no seu esplendor. Portanto, para este senhor, a família "cria-se" através de incentivos fiscais. Nada mais. Tudo o resto são ninharias. Em última análise, os cidadãos dever-se-iam matrimoniar (a palavra não existe, mas eu gosto) para terem a suprema e inefável satisfação de entregar uma declaração fiscal mais levezinha. Se os tais incentivos não existissem, haveria um colapso demográfico, as Conservatórias e os registos paroquiais ficariam às moscas, provavelmente o tal cometa mudaria de direcção e já estaria a caminho, e pior, muito pior, triunfaria a união. De facto.
Estas derivas funambulescas de quem não tem mais nada que dizer já saturam. Há tempos foi a ideia peregrina do Governo em agravar a taxa contributiva para quem não tivesse filhos. Agora o mesmo Governo vai penalizar cidadãos por via do fisco, exclusivamente devido ao seu estado civil. Vão bardamerda! Em sociedades democráticas e abertas, o Estado dever-se-ia abster, definitiva e absolutamente, de interferir na esfera privada dos cidadãos: o que consomem ou deixam de consumir, onde investem ou deixam de investir, com quem e onde vivem ou deixam de viver, etc. Quaisquer que sejam as decisões lícitas que os indivíduos tomem no que se refere à condução da sua vida pessoal, o seu estatuto perante a lei é rigorosamente igual. Este moralismo de cariz socializante que estes arautos papagueiam é tão perigoso quanto delirante.

3 comentários:

  1. Hummmm! Agora casar é capaz de ser um bom negócio. Antes valia a pena se o outro cônjuge fosse beneficiário da ADSE, para a arranjar os dentes.Agora são dois em um...

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  2. bem visto. Quando a estupidez pagar imposto haveria muitas surpresas...

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  3. Selbaige, contra nada tenho em especial. Deviam era pagar mais imposto, para a vida lhes trazer alguma excitação.

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