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quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Vai um chouriçinho?

Mário Soares e Pacheco Pereira estiveram frente a frente na emissão de ontem do Prós e Contras na RTP 1 sobre os acontecimentos do 11 de Setembro.
Os espectadores puderam assistir a um fantástico debate entre um fantasma da guerra fria e um pensador contemporâneo, entre um sub-gaulês anti-americano e um adepto da liberdade na tradição de Tocqueville, entre um coleccionador de slogans jacobinos e um investigador com um pensamento notoriamente estruturado, entre uma glória senatorial da república prontinho a negociar com os terroristas e alguém que já percebeu desde a primeira hora que estes terroristas só negoceiam cadáveres e medo, entre um campeão do politicamente correcto que pretende transformar as vítimas em carrascos e os carrascos em vítimas e alguém que sabe bem como o fundamentalismo nasce do medo de ser livre e do ódio a quem o consegue ser.
Pela minha parte, fiquei definitivamente esclarecido sobre o delírio irresponsável e suicidário da esquerda quando encara estes temas. Sou defensor intransigente do laicismo, como única forma de organização política em que as convicções religiosas de todos os indivíduos - ou a sua ausência - podem coexistir, mas nenhuma é imposta. Por isso, este estranho fenómeno de incapacidade de interiorização da perda de que a esquerda padece, sublimado num anti-americanismo para lá de qualquer racionalidade, é algo espantoso. Ora, sendo o Islamismo, tal como é interpretado pelos teocratas, a negação daquele princípio secular básico, escapa-me completamente a simpatia com que a esquerda encara uns milhares de fanáticos em vias de possuirem armas nucleares, sem sequer imaginar que, se os terroristas impusessem a sua vontade, os relógios atrasariam, pelo menos, 800 anos.

Para abrilhantar a festa, comparaceu o extraordinário Yossuf Adamgy - o tal que em tempos defendeu a lapidação de Amina Lawal - afirmando a pés juntos que o 11 de Setembro não existiu. Ver aqui o desenvolvimento. O delirante "pensamento" deste artolas pode de resto ser saboreado nesta citação da sua obra "A Mulher no Islão". Imaginem um meio termo entre os apedrejadores da mulher adúltera no filme "A Vida de Brian" dos Monthy Python e o Diácono Remédios. Aí têm o homem. É caso para dizer: ó pá, vai um chouriçinho?

Nota: nestas alturas ganham peso as teses da conspiração, inspiradas no Professor Zandinga e no "Código da Vinci". Algo entre os resumos do Livro de S. Cipriano e as tendas da feira de Vale de Perdizes. Basta ver o documentário recentemente passado sobre o assunto na RTP 2 e toda a dúvida cessa. Há gente para tudo. E até se ganha bom dinheiro e notoriedade com isso. Portanto, recomenda-se a leitura da divertidíssima proclamação das "Seis teses negacionistas sobre o 11 de Setembro", no "Corta-fitas".

3 comentários:

  1. Numa coisa os papistas e os muçulmanos estão de acordo: "olhem para o que eu digo e não para o que eu faço"...

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  2. Perfeito! Não poderia concordar mais.

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  3. Ao que parece, o documentário "Loose Change" passou ontem pela terceira vez. No próximo capítulo ficará provado que os gambuzinos efectivamente existem e que o Hitler foi rapatado por extra-terrestres. Haja paciência!

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