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segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Os malefícios do tabaco

Os Waffen SS sanitários andam por aí, como o Santana Lopes, mas estes zelando sem descanso pela nossa saúde. Agora chegou-se ao cúmulo de não se ser admitido em determinados empregos por se ser fumador. Já assistimos, desde o triunfo da cultura de massas juvenil nos anos 60, a uma discriminação insidiosa e não reconhecida como tal: a discriminação etária. Depois vieram as cruzadas contra o autoritarismo escolástico nas escolas. Sim senhor. Só que se caiu no trágico desvario corporativo que se conhece, promovido pelos pedagogos formados precisamente nos loucos anos 60. Resultado: tendencialmente, hoje em dia um aluno que conclui o 11º ano padece de iliteracia funcional, ao contrário de quem fez o liceu nos finais dos anos 70, como é o meu caso. Não é que me esteja a armar aos cucos, mas toda a gente de boa fé sabe que é assim.
Todavia, faltava e última cruzada moralizadora: o antitabagismo. Escutando os argumentos do Ministério da Saúde e dos vigilantes de serviço, não resisto a estabelecer um paralelo: os trabalhos preparatórios da célebre Lei Seca, conduzidos por uma comissão nomeada pelo Senado americano em 1918, presidida pelo reverendo W.S Crafts. Era o culminar dos esforços dispendidos pelos lobbies proibicionistas, como o Prohibition Party, a Sociedade para a Supressão do Vício e a Anti-Saloon League, bem como por alguns propagandistas avulso. Essa comissão legitimou a aprovação da mais desastrosa medida legislativa da história americana - o Volstead Act, conhecido como Lei Seca: cinco milhões de vítimas e nascimento da criminalidade organizada. Já antes, em 1914, havia sido promulgada a igualmente célebre Lei Harrison, que interditou o consumo de estupefacientes, a que se seguiu a proibição do tabaco em vários estados. Era a aliança do puritanismo e do terapeutismo no seu esplendor. Significativamente, podia ler-se, num apelo à Lei Seca de Benjamim Rush: "No futuro será assunto do médico salvar a humanidade do vício, tanto como até agora o foi do sacerdote". O episódio é relatado em História Elementar das Drogas, de Antonio Escohotado, ed. Antígona, 2004.
O governo prepara-se pois para proibir, a partir de Outubro, o consumo de tabaco em todos os estabelecimentos públicos. Vai ser uma hecatombe para a indústria hoteleira. Mas os SS do politicamente correcto vão rejubilar. Agora pergunto: porque é que pura e simplesmente não é proibida a venda de tabaco? Isso sim, seria uma medida abslolutamente coerente. Que só não foi considerada porque assim o Estado perderia uma fonte de receita considerável, por via dos impostos que arrecada com a comercialização do tabaco.
Sobre estes neo fundamentalistas, veja-se este excelente texto em "Quarta República".

6 comentários:

  1. no essencial penso que o Estado não se deveria intrometer no que as pessoas comsomem ou deixam de consumir. mas neste caso está-se a defender os direitos dos chamados fumadores passivos, que merecem igualmente protecção.

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  2. concordo consigo egitano. mas eu sou fumador passivo e as vezes compro um massinho. mas o tabaco aumentou como deve saber. e acho que o governo tambem têm de nos ajudar. n é por ter um vicio que n mereço trabalhar. atenção n sou viciado dou umas passinhas de vez em quando

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  3. Não sou fumadora, mas acho que esta lei que foi anunciada vai longe demais. Quanto à discriminação por causa da idade ela é bem real, mas ninguém fala dela. Vocifera-se contra outras discriminações - racial, de género, de orientação sexual, eu sei lá - mas perguntem a alguém com mais de 45 anos o que custa arranjar emprego e ficamos esclarecidos.

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  4. parece que o Governo recuou e já vai permitir que os proprietários dos cafés e restaurantes a partir de certa dimensão possam optar, como em Espanha.

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  5. O livro de que falas encontra-se com facilidade?

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  6. Sim. Em qualquer livraria razoável. Mas é de evitar a fnac do chiado. Aquilo anda abaixo de cão.

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