A vontade do povo, a par da vontade de Deus, é dos desígnios mais impenetráveis e misteriosos de que há memória. Na maioria dos casos, aparece como fórmula mágica para amparar outros desígnios, mais terrenos, dos seus intérpretres qualificados: os políticos que o representam, um ou outro publicitário bem sucedido, alguns maus tradutores de Hegel e certos epígonos de António Ferro em versão liberal. Por exemplo, na Guarda existe um Presidente da Câmara que, após consulta ao oráculo de Delfos, lá encontrou a fórmula secreta para dar ao povo o que o bom povo gosta: umas festarolas com muitas sandes de coiratos e o trabécula (Luís Filipe Reis) a debitar decibeis!
Ora, na última edição do jornal "O Interior" aparece uma excelente crónica do Pedro Almeida a colocar o problema no seu devido lugar - a formatação do gosto - a que se juntou uma carta de uma leitora onde o enfoque é posto nas péssimas soluções de gestão encontradas. Mas o que me chamou logo a atenção foi um texto do José Carlos Alexandre, tecendo longos encómios às Festas e remetendo os seus críticos à qualidade de intelectuais subdesenvolvidos e arrogantes "educadores" do povo, entre outras vibrantes reflexões. Imediatamente desfaleci na cadeira. Consegui ainda dirigir-me à casa de banho e meter a cabeça debaixo da torneira, mas o choque emocional foi demasiado. Comecei então a balbuciar umas palavras desconexas, acompanhadas de um delírio quase vegetativo. Já imaginava o Luís Filipe Reis a açoitar o Stockausen com o microfone, elementos do rancho folclórico do Centro Cultural a bombardear o Luís Miguel Cintra com pernas de frango, brigadas populares compostas por trolhas e leitores do "Record" percorrendo a cidade, numa defenestação enérgica dos perigosos críticos.
Enquanto me debatia neste estado meio cataléptico, acorreu o anjo da Guarda, perguntando-me o que tinha. Disse-lhe as palavras terríveis: "meu caro, sou um intelectual subdesenvolvido". Graças a um leve bater de asas, senti que um calafrio o percorreu. Todavia, e sem qualquer razão aparente, começou a rir perdidamente, benzendo-se por diversas vezes. Finalmente, recompondo-se, disse que me compreendia muito bem, mas que, nestes casos, nada poderia fazer. Recomendou-me então uma ida à consulta de psiquiatria no Hospital. E pronto, depois de várias sessões de choques eléctricos ao som do Toy e do rancho folclórico da Associação de Melhoramentos de Catrapim de Baixo, entre outras canoras virtudes teologais, tornei-me outra pessoa. Em boa hora. Deixa-me cá dar uma vista de olhos ao "Jornal do Crime"...
*A propósito de mais um "intelectual" do G8 guardense - os arautos da vox populi, em oposição aos subdesenvolvidos elitistas - nada melhor do que uma visita e este post.
Ora, na última edição do jornal "O Interior" aparece uma excelente crónica do Pedro Almeida a colocar o problema no seu devido lugar - a formatação do gosto - a que se juntou uma carta de uma leitora onde o enfoque é posto nas péssimas soluções de gestão encontradas. Mas o que me chamou logo a atenção foi um texto do José Carlos Alexandre, tecendo longos encómios às Festas e remetendo os seus críticos à qualidade de intelectuais subdesenvolvidos e arrogantes "educadores" do povo, entre outras vibrantes reflexões. Imediatamente desfaleci na cadeira. Consegui ainda dirigir-me à casa de banho e meter a cabeça debaixo da torneira, mas o choque emocional foi demasiado. Comecei então a balbuciar umas palavras desconexas, acompanhadas de um delírio quase vegetativo. Já imaginava o Luís Filipe Reis a açoitar o Stockausen com o microfone, elementos do rancho folclórico do Centro Cultural a bombardear o Luís Miguel Cintra com pernas de frango, brigadas populares compostas por trolhas e leitores do "Record" percorrendo a cidade, numa defenestação enérgica dos perigosos críticos.
Enquanto me debatia neste estado meio cataléptico, acorreu o anjo da Guarda, perguntando-me o que tinha. Disse-lhe as palavras terríveis: "meu caro, sou um intelectual subdesenvolvido". Graças a um leve bater de asas, senti que um calafrio o percorreu. Todavia, e sem qualquer razão aparente, começou a rir perdidamente, benzendo-se por diversas vezes. Finalmente, recompondo-se, disse que me compreendia muito bem, mas que, nestes casos, nada poderia fazer. Recomendou-me então uma ida à consulta de psiquiatria no Hospital. E pronto, depois de várias sessões de choques eléctricos ao som do Toy e do rancho folclórico da Associação de Melhoramentos de Catrapim de Baixo, entre outras canoras virtudes teologais, tornei-me outra pessoa. Em boa hora. Deixa-me cá dar uma vista de olhos ao "Jornal do Crime"...
*A propósito de mais um "intelectual" do G8 guardense - os arautos da vox populi, em oposição aos subdesenvolvidos elitistas - nada melhor do que uma visita e este post.
Já viram um blogue daí da Guarda, que parece ser novo? Aquilo é duro mas parece trazer novidades.
ResponderEliminarChama-se guarda-mal.blogspot.com
Mas o autor da tal crónica não é professor no IPG? Está tudo explicado...
ResponderEliminarQuando se debatem políticas culturais surge a eterna questão: como fugir à subsidiodependencia sem cair no populismo, como conciliar o investimento público nessa área e o mero funcionamento do mercado. O problema é que, neste debate, os intervenientes raramente saem do seu acantonamento. Muitas vezes, por simples razões ideológicas, ou de estratégia pessoal. O que é pena.
ResponderEliminarEsse novo blogue - Guarda Mal - parece-me interessante. Mas desconfio sempre de quem prefere o anonimato, não dando a cara por aquilo que afirma. O que provoca aquela estranha sensação de até se concordar com o que é dito mas permancer uma reserva mental em relação ao autor...
ResponderEliminarÉ verdade. Mas talvez o/a autor/a tenha a suas razões para se proteger. Este é um meio pequeno e onde há muitos caciques.
ResponderEliminarO autor da tal crónica faz lembrar aqueles gajos emproados que gostam de ficar sempre na fotografia. Curiosamente, estou mais a vê-lo como protótipo do micro-fascismo do que como liberal à antiga. É que esses ainda punham algum aristocratismo à frente da massificação. Enfim, aí na Guarda deve ser duro estar com o tempo.
ResponderEliminarEles gostam de dar ao povo o que o povo gosta. A questão está no "dar". Será que, aplicando as regras do mercado, alguém dá alguma coisa a alguém? Por outro lado, o sexo será sempre popular em todos os hemisférios. Imagine-se então alguém a cantar uns temas com letras explicitamente eróticas, tipo:
ResponderEliminar"Eles comem-te. De cona, de broche, de cu
Cavalgando
Esporeando mamas, pernas, braços, mãos
Deixa-os.
Eu amo-te. Pés, joelhos, coxas, rego, sovacos
Púbis
Pele, olhos, nariz, cabelos, umbigo, unhas
Vem comigo.
Pisa-mo. Leve, forte, meiga, brutamente
É teu
Leva-mo, abate-o, liberta-o. Do tesão.
Faz.
Goza. Fode-me. Ignora-me. Usa-me.
Escravo.
Senhora. Patroa. Dona. Imperatriz. Deusa.
Amada.
Toma-o. Pega-lhe. Punheteia-te. Com ele.
Aperta-o.
Estrangula-o. Vem-te. Depois, calma, mija-me.
Amas-me?
Minha puta preferida"
Vinham logo os incansáveis delegados do gosto popular a ocultar tamanha obscenidade dos bons selvagens que tanto gostam de preservar. Gostava de assistir. Palavra.
ai que eu coro!!!lol
ResponderEliminarmaz que é isto, meuz amigozzz? umas gracholas xem ofender está bem. mas isto axim não pode xer. vá,ide, ide pra vossas casas e arrependei-vos desta tentaxão.
ResponderEliminarPessoal, não digam mal do Zé Carlos Alexandre. Pode até ser útil. Como catavento, por exemplo. Mas confesso que,se já é deprimente ser catavento, deve ser ultrajante gostar sempre do que a maioria gosta, só porque a maioria gosta.
ResponderEliminarestas conversas de intelectuais já me enojam. viva o Emanuel! viva a Ana Malhoa! Viva o gordo dos concursos!
ResponderEliminarCaro Zizou:
ResponderEliminarRequereu antecipadamente a licença para a manifestação no Governo Civil?
Recomendo vivamente uma visita ao Guarda Mal (www.guarda-mal.blogspot.com)
ResponderEliminarNão se arrependem.
li o post que hoje escreveste sobre populismos. pelos vistos, a terapia de choque não te afectou. lol
ResponderEliminarTomei nota de um comentário noutras paragens e que, sobre esta questão, diz o seguinte:
ResponderEliminar"Identidade cultural no Portugal multicultural "dirigida" pelo Ministério da Cultura? Tem que ter como adjuntos o SOS racismo, o ACIME, o seik da mesquita de Lisboa...
Nós sabemos o que esperar destas mentes brilhantes:Apagamento da identidade cultural própria!Dos Lusitanos!
Querem fomentar o funaná?Vão para Cabo Verde governar!
Acabem mas é com os subsídios TODOS que o ZÉ está pagando para subsidiar até aqueles que lutaram contra Portugal!
Acabem com o Ministério da Cultura.Só fica uma secretaria de estado para tratar dos monumentos nacionais!"
Será que os intelectuais desenvolvidos tipo José Carlos Alexandre não subscreveriam este rol de disparates? Temo bem que sim. Por isso é que há que estar atento...