Ser como se já não fosse ainda não é o fim ainda não é só a terra que se estende infinita nos meus passos é só o nascer de um lugar para as palavras que esqueci é só o começo dos dias dos meses e dos anos depois de mim não de ti mas as torres já ruiram e logo no outono com o sopro de um coração estéril de que já nem as pedras se conseguem apiedar ainda me vejo de cócoras no meio das ruínas a tentar descobrir como a tarde pode morrer de repente um sinal um vislumbre um ardor de que ninguém falou uma pontuação para os abismos um espelho para encontrar o meu rosto mais claro do que os pensamentos o meu nome mais profundo do que a escuridão dos sentimentos onde está fechado mas nada encontrei só um céu amargo onde a noite se tornou insensível ao dia e o meu sono é todo o crepúsculo que resta ah ainda se conseguisse ser como se já não fosse ainda se conseguisse recitar uma fábula onde o vento tudo arrebatasse e me atirasse para a efémera matéria do silêncio mas os vulcões secos estalaram e cuspiram cidades de tédio uma solidão que dói como uma dor de dentes como um convite da eternidade para deslizar por ela como um manual para proteger os meus passos numa dança impossível como uma música que finalmente ascende ascende nunca aceitando que a sua harmonia é harmonia ah se eu fosse como já não fosse.
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escreves muito bem, para intelectual subdesenvolvido...
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