“A minha causa é a causa de nada”, é a expressão com que Stirner anuncia o seu programa, para depois acrescentar “Há tanta coisa a querer ser a minha causa! A começar pela boa causa, depois a causa de Deus, a causa da humanidade, da verdade, da liberdade, do humanitarismo, da justiça, do meu povo, da minha pátria, a causa do espírito e milhares de outras. A única coisa que não está prevista é que a minha causa seja a causa de mim mesmo!” Significará este auto-declarado egoísmo um bluff para espantar os incautos, um solipsismo ingénuo? Não, é a afirmação da soberania absoluta da singularidade de cada indivíduo, do único, contra todas as formas de dominação, incluindo a Revolução, o “Homem”, o sagrado, a consciência e o Direito. A começar pela fascinação, pela obsessão que os indivíduos sentem pelos espectros, as formas mais insidiosas de revelação do tal espírito. Que a dialéctica hegeliana desembocou numa servidão ainda mais tirânica: o materialismo histórico e a sociedade perfeita no seu termo, segundo Marx.
Quando o livro saiu, em 1844, foi como uma bomba de efeito retardado. Os censores bem hesitaram em conceder o imprimatur, por fim autorizado porque “demasiado absurdo para ser perigoso”. Logo após a sua publicação, Marx encarou Stirner como um alvo a abater, tendo escrito uma crítica demolidora, por sinal mais extensa do que o livro, e que permaneceu inédita até à sua morte: São Max.
O “estranho individualismo” de Stirner foi abundantemente citado e absorvido por gerações de estudiosos e artistas, mas raramente entendido na sua profética genialidade e quase sempre recalcado como um passageiro clandestino do pensamento. É que o tempo dele ainda mal começou.
o gajo não era admirado pelo dostoievski?
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