Tenho a felicidade de morar numa cidade onde não há, literalmente, futebol ao nível de clubes. Essa será uma razão necessária, embora não suficiente, para que a Guarda esteja posicionada no topo do ranking das cidades portuguesas com maior qualidade de vida.
Já aqui denunciei este autêntico case study para psiquiatras e antropólogos, que é o facto de adeptos e dirigentes do F. C. Porto e Sporting celebrarem as vitórias das suas equipas...insultando o Benfica. (Até já vi alguém denegrir o Simão Sabrosa, após a notícia de que integrou as escolhas de Scolari para a selecção, só porque foi ocupar o lugar que pertencia, por direito divino, a Quaresma e porque...ora adivinhem, é jogador do Benfica). Inenarrável.
Mas é relativamente ao F.C.Porto que o fenómeno revela maior acuidade. Para lá dos cânticos e das euforias dos triunfos, entremeadas pelos habituais insultos ao S.L.B., só entendíveis no momento em que decorreram, há uma outra retórica, ora primária, ora subliminar, esta sim mais perigosa. Basta percorrer a blogosfera e ler certos "comentadores" em jornais: é o regresso das proclamações miguelistas, da aversão atávica à modernidade e ao cosmopolitismo, preenchida à custa da diabolização do outro - os mouros, os de Lisboa, como se o País se reduzisse a isto - da militarização folclórica, da balcanização do país por via clubística, da demagogia impune do Sr. Pinto da Costa, para contentamento das casas de alterne, das agências de viagens para árbitros, dos caciques autárquicos, das claques especializadas em destruir estações de serviço e estádios alheios.
Mas este país, que o Senhor D. Miguel de Bragança não mesnosprezaria representar, num assomo patriótico, vem também, cúmulo dos paradoxos, suprema das ironias, reivindicar a associação dos êxitos desportivos do F.C.Porto à...modernidade e ao ciclo democrático, em ruptura com um suposto favoritismo do Antigo Regime ao Benfica! Bravo! Esta pérola sofística é altamente sedutora, mas a falácia enorme que esconde tem que ser energicamente desmascarada. Para já, nunca o Estado Novo beneficiou desportivamente o Benfica. Aproveitou-se, isso sim, para fins puramente propagandísticos, dos seus êxitos desportivos nos anos 60, ao mesmo tempo que desconfiava da raiz popular da sua massa associativa e da democraticidade do seu funcionamento interno, maxime a eleição dos dirigentes. Depois, se há alguma coisa com que o F.C.Porto possa ser imediatamente identificado é com a corrupção e o caciquismo que invadiu a vida pública em Portugal. Num país onde a Lei fosse levada a sério, já há muito tempo que os seus dirigentes teriam as pernas cortadas.
A título pessoal, já tomei algumas medidas sanitárias: retirei da minha lista de favoritos certos blogues, como "Mar Salgado", "A Origem das Espécies" e "Kontratempos", onde certos soundbytes portistas têm livre curso, desmentindo a qualidade global dos seus conteúdos. Enfim, no melhor pano...
Em contrapartida ficará, de pedra e cal, "A Cidade Surpreendente", um blogue que celebra o Porto, cidade cuja natural auto-estima nada deve a estas aberrações saídas da Patuleia ou do "Portugal dos Pequeninos", de cachecol ou não.
Está bem. Mas é bom lembrar, para além de tudo o resto, é inegável que os resultados da gestão no F.C. Porto são incomparavelmente superiores aos dos seus rivais, que aí têm muito que aprender.
ResponderEliminarConhecem a história do diácono de Trancoso? Deviam conhecer...lol
ResponderEliminarSerá que esses blogues retirados são assim tão facciosos, ou tem dificuldade em ouvir opiniões diferentes da sua?
ResponderEliminarTeria razão, caro anónimo, se realmente fossem opiniões.
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