Sócrates - Imagina ainda o seguinte: se um homem nessas condições (depois de encarar a luz) descesse de novo para o seu antigo posto (a caverna), não teria os olhos cheios de trevas, ao regressar subitamente da luz do Sol?
Gláucon - Com certeza
Sócrates - E se lhe fosse necessário julgar daquelas sombras em competição com os que tinham estado sempre prisioneiros, no período em que ainda estava ofuscado, (...) acaso não causaria o riso, e não diriam dele que, por ter subido ao mundo superior, estragara a vista e que não valia a pena tentar a ascensão? E a quem tentasse soltá-los e conduzi-los até cima, se pudessem agarrá-lo e matá-lo, não o matariam?
Gláucon - Matariam, sem dúvida.
Platão, A República, Livro VII
O autor de Fédon parece dizer-nos, neste excerto da célebre alegoria da caverna, que o seu momento mais importante surge, não com a saída, mas com o regresso às sombras. Ora, se o mundo real torna possível a dianoia e a noesis, não é menos verdade que, a haver um sentido útil para a passagem de um mundo a outro, será o de dar depois a conhecer aos que vivem nas sombras o que está para além delas. Uma missão quase obrigatória, mas sem dúvida cheia de perigos e desilusões, como é aqui advertido. Cuidado pois, muito cuidado quando se decide sair da caverna! Não é que me tenha tornado um pessimista, à maneira de Hobbes, mas pressinto que muito poucos quereriam a luz, sabendo o que isso implicaria, e quase ninguém regressaria para a diletante missão de divulgar a boa nova, sabendo o que encontraria de volta.
Bem a propósito!
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