Acordo sem saber o que me despertou - um som é improvável - talvez o silêncio quente da casa, talvez o frio procurando frinchas com os dedos aguçados do Inverno.Não encontro razão para ficar desperto nem motivos para voltar ao aconchego da cama, oscilando assim o meu sono à beira de uma revelação. Nos carvalhos lá fora levanta-se o vento - é a voz do desamparo, quantas vezes o dissemos - nenhum som é mais triste na noite do que o vento, trazendo as memórias das viagens sem regresso, quase todas as que fiz… Lá fora o vento sopra, pudesse eu dormir, eu sei eu sei que não foi nada não foi nada, podia ter sido, mas quando quase esqueço quase durmo quase nada (não foi nada não foi nada) tropeço no que afinal me salva, me resgata, me enternece, me derruba, me renasce. Não sei muito bem, mas talvez um desejo de eternidade, um misterioso desejo de sempre, de tudo, alguém a cantar do you mind if I love you forever, uma alegria silenciosa, palavras quase nenhumas, um voo crepuscular, o mundo inteiro a respirar em mim, a comunhão, um pássaro ubíquo:
Recordo-te a respirar ali
a casa no silêncio
o silêncio em ti
tu em mim
e depois não me lembro de mais nada.
Recordo-te a respirar ali
a casa no silêncio
o silêncio em ti
tu em mim
e depois não me lembro de mais nada.
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