07h00: levanto-me sempre com a esperança de ser hoje o dia D.
Resido em meio rural por opção e porque é mais barato viver no campo, além de ser mais fácil solucionar o problema da habitação. Sou divorciada, mãe de duas crianças em idade escolar, desempregada de longa duração. Acendo o lume, tomo o café enquanto preparo o pequeno-almoço das crianças Ajudo a mais pequena a preparar-se, enquanto vou recomendando juízo ao mais velho, que já vai saindo de sacola ao ombro. Enquanto a primeira come, vou adiantando as tarefas domésticas, para deixar tudo arrumado antes de sair.
8h45: levo a filha até ao cruzamento onde a carrinha da Câmara espera as crianças que vão para a Escola. Pego no meu carrito velho e vou até à sede de Concelho onde, a partir das 9h, posso usar o espaço das novas tecnologias e assim navegar pelos sites de emprego. Regra geral, das 9h ás 13h30 vejo se tenho respostas no meu e-mail, procuro trabalho nos sites de emprego, incluindo os das empresas de recrutamento e o site do IEFP. Respondo a anúncios e envio o C.V. on-line. Nos sites estou habituada a encontrar muitas propostas para call center, empregos ditos part-time e pagos como tal mas com horários de 6h por dia, anúncios onde me pedem dinheiro, que varia entre 25 a 60 Euros, para aceder à informação sobre o posto de trabalho anunciado e muitas propostas para vendas por catálogo ou network. Quando a pesquisa resulta proveitosa, ao cabo de 4 horas terei 3 ou 4 chamadas para fazer e terei enviado 5 ou 6 e-mails. 13h30: compro um jornal diário, regresso a casa, almoço e adianto o jantar. 14h00: aproveito o facto de as crianças ainda não terem chegado da Escola para pesquisar os anúncios do jornal, ligar para os números que anotei, tanto da net como do jornal. Acontece-me várias vezes ligar para anúncios que mais não são que propostas veladas de prostituição, tentativas de extorsão de dinheiro por parte de particulares ou mesmo "empresas" criadas para o efeito, tipo “dobragem de envelopes”, propostas para trabalhar a 2 euros por hora e a recibo verde.... enfim, a lista é enorme e depois da triagem resta pouco trabalho sério e honesto.
16h00 Escrevo mais algumas cartas de resposta ou simplesmente de candidatura espontânea e em seguida vou aos Correios expedir a correspondência do dia (muitas vezes registado e com aviso de recepção) e comprar envelopes de vários formatos e cores. 16h40: quando regresso dos CTT espero pela Carrinha que há-de trazer de volta da Escola a mais pequena, sorridente e ávida de me contar tantas histórias. É tempo de outra dedicação, tempo de preparar merendas e ajudar nos trabalhos de casa. Aproveito este tempo para por em dia as minhas contas: quanto gastei de gasolina, nos correios, nos telefones, no(s) jornal(is) e organizo o meu "dossier " de quanto gasto para procurar um trabalho, tentando equilibrar o magro subsídio de desemprego. 18h: 2 vezes por semana os meus filhos e alguns vizinhos praticam desporto, levando-os todos ao pavilhão de desportos, de onde voltamos cerca das 20h30. Nesses dias, a rotina doméstica de preparar refeições, tratamentos de roupas e ajudas com trabalhos escolares ocupa-me até me deitar. Nos dias em que não é preciso acompanhar as crianças ao Pavilhão aproveito as horas depois do jantar para procurar Cursos de Formação. Nos jornais encontro anúncios de cursos a preços exorbitantes que prometem colocação no final e conseguem sempre enganar algum/a desesperado/a. Os financiados são mais dirigidos para Activos do que para Desempregados. Algumas vezes solicitam-me para prestar provas ou entrevistas. Nem sempre o local me permite sair e regressar no mesmo dia. Nessas alturas tenho que contar com a colaboração de um familiar que me cuida dos filhos na minha ausência. Gasto muito dinheiro em transportes: comboio e autocarro.
Assinei um contrato com um Centro de Emprego. Sinto que cumpro a minha parte. Por ora, ainda só fui chamada para me “controlarem" e rasgarem no meu nariz a carta que me escreveram...nesse dia fiz 70km para ser controlada!!! É que tenho de me deslocar à sede distrital do Centro de Emprego por ser o mais próximo da minha residência.
7h00: mais um dia D…
Resido em meio rural por opção e porque é mais barato viver no campo, além de ser mais fácil solucionar o problema da habitação. Sou divorciada, mãe de duas crianças em idade escolar, desempregada de longa duração. Acendo o lume, tomo o café enquanto preparo o pequeno-almoço das crianças Ajudo a mais pequena a preparar-se, enquanto vou recomendando juízo ao mais velho, que já vai saindo de sacola ao ombro. Enquanto a primeira come, vou adiantando as tarefas domésticas, para deixar tudo arrumado antes de sair.
8h45: levo a filha até ao cruzamento onde a carrinha da Câmara espera as crianças que vão para a Escola. Pego no meu carrito velho e vou até à sede de Concelho onde, a partir das 9h, posso usar o espaço das novas tecnologias e assim navegar pelos sites de emprego. Regra geral, das 9h ás 13h30 vejo se tenho respostas no meu e-mail, procuro trabalho nos sites de emprego, incluindo os das empresas de recrutamento e o site do IEFP. Respondo a anúncios e envio o C.V. on-line. Nos sites estou habituada a encontrar muitas propostas para call center, empregos ditos part-time e pagos como tal mas com horários de 6h por dia, anúncios onde me pedem dinheiro, que varia entre 25 a 60 Euros, para aceder à informação sobre o posto de trabalho anunciado e muitas propostas para vendas por catálogo ou network. Quando a pesquisa resulta proveitosa, ao cabo de 4 horas terei 3 ou 4 chamadas para fazer e terei enviado 5 ou 6 e-mails. 13h30: compro um jornal diário, regresso a casa, almoço e adianto o jantar. 14h00: aproveito o facto de as crianças ainda não terem chegado da Escola para pesquisar os anúncios do jornal, ligar para os números que anotei, tanto da net como do jornal. Acontece-me várias vezes ligar para anúncios que mais não são que propostas veladas de prostituição, tentativas de extorsão de dinheiro por parte de particulares ou mesmo "empresas" criadas para o efeito, tipo “dobragem de envelopes”, propostas para trabalhar a 2 euros por hora e a recibo verde.... enfim, a lista é enorme e depois da triagem resta pouco trabalho sério e honesto.
16h00 Escrevo mais algumas cartas de resposta ou simplesmente de candidatura espontânea e em seguida vou aos Correios expedir a correspondência do dia (muitas vezes registado e com aviso de recepção) e comprar envelopes de vários formatos e cores. 16h40: quando regresso dos CTT espero pela Carrinha que há-de trazer de volta da Escola a mais pequena, sorridente e ávida de me contar tantas histórias. É tempo de outra dedicação, tempo de preparar merendas e ajudar nos trabalhos de casa. Aproveito este tempo para por em dia as minhas contas: quanto gastei de gasolina, nos correios, nos telefones, no(s) jornal(is) e organizo o meu "dossier " de quanto gasto para procurar um trabalho, tentando equilibrar o magro subsídio de desemprego. 18h: 2 vezes por semana os meus filhos e alguns vizinhos praticam desporto, levando-os todos ao pavilhão de desportos, de onde voltamos cerca das 20h30. Nesses dias, a rotina doméstica de preparar refeições, tratamentos de roupas e ajudas com trabalhos escolares ocupa-me até me deitar. Nos dias em que não é preciso acompanhar as crianças ao Pavilhão aproveito as horas depois do jantar para procurar Cursos de Formação. Nos jornais encontro anúncios de cursos a preços exorbitantes que prometem colocação no final e conseguem sempre enganar algum/a desesperado/a. Os financiados são mais dirigidos para Activos do que para Desempregados. Algumas vezes solicitam-me para prestar provas ou entrevistas. Nem sempre o local me permite sair e regressar no mesmo dia. Nessas alturas tenho que contar com a colaboração de um familiar que me cuida dos filhos na minha ausência. Gasto muito dinheiro em transportes: comboio e autocarro.
Assinei um contrato com um Centro de Emprego. Sinto que cumpro a minha parte. Por ora, ainda só fui chamada para me “controlarem" e rasgarem no meu nariz a carta que me escreveram...nesse dia fiz 70km para ser controlada!!! É que tenho de me deslocar à sede distrital do Centro de Emprego por ser o mais próximo da minha residência.
7h00: mais um dia D…
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