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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Medida por medida

Ocasionalmente, interessam-me as jogadas políticas locais da cidade onde vivo. Mas importa esclarecer que o tema me interessa por simples curiosidade antropológica e não para alinhar jeremiadas placebas. Por sua vez, a curiosidade é a mesma que sinto diante de um palco onde loucos se digladiam por chegar ao poder e depois conservá-lo a todo o custo. Ao poder que eles tomam como tal, entenda-se. Pois na Guarda é notória a baixíssima qualidade dos actores políticos, que a valia do tal teatro épico, grosso modo, acompanha. Mas será que se pode falar de verdadeiro combate político nesta cidade? Um combate em cujo centro estão os modelos, as propostas concorrentes e não os cabeças de cartaz? Um combate onde o ponto de focagem está na mobilização e não na arregimentação? A resposta é negativa, com excepção de umas épicas eleições locais nos idos de 80. Tomemos agora como exemplo o que se assiste nos dois únicos partidos com expressão eleitoral local - PS e PSD. É certo que, desde sempre, a política sempre foi para mim muito mais do que o mundo dos partidos políticos, epifenómenos em vias de extinção. Mas, por conveniência narrativa, centro-me por ora neles.  Comecemos pelo PSD. A estrutura local deste partido pouco tem a ver com o que se passa a nível nacional. Ou seja: ausência de debate político-ideológico; resistência à modernidade; discurso voltado para eleitores de uma ruralidade em extinção, de um conservadorismo anacrónico e de um tecido empresarial incipiente; tiques populistas, como se viu com a recente polémica onde um dirigente local compara a actividade cultural ao "circo". Ou seja, o PSD local esquece-se de um pormenor essencial: ser de direita, hoje em dia, é estar do lado da modernidade, do desenvolvimento e da liberdade. É por de lado as respostas conceptuais perante a realidade em que a esquerda ainda continua enredada. Passarei agora ao PS. Aqui a situação adquire uma dimensão trágica. Paredes meias com o grau zero da política. A façanha, embora com antecedentes propícios, foi conseguida pela actual direcção distrital, comandada por esse case study de nome José Albano. Um ilustre desconhecido que, tendo sido eleito deputado da Nação, renunciou ao mandado por um cargo dirigente local. E tendo-se recandidatado na legislatura seguinte, como número dois da lista, viu os seus intentos gorados, graças aos piores resultados da história do partido no distrito. De cuja estrutura já era o responsável máximo. E pensam que daí retirou algumas consequências? Não, limitou-se a apoiar Seguro, o senhor que se seguiu à frente do partido. Depois de ter feito juras de amor eterno a Sócrates. E a confirmar o seu deserto de ideias e propostas para a região. E a promover os seus fiéis. Comportando-se como um simples chefe de facção. É de gente como esta que a Guarda precisa para dirigentes políticos? Adivinha-se a resposta. Em síntese, chega de produtos do aparelho, candidatos a caudilhos, distribuidores de lugares e favores. O que a Guarda necessita, urgentemente, é de políticos mobilizadores, esclarecidos, ousados, atentos ao pulsar da cidade e da região. Só assim prevalecerá o melhor das capacidades instaladas, as boas práticas da administração e a atractividade.

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