Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

terça-feira, 19 de abril de 2011

O espelho

Em alguns blogues de referência da Guarda continuo a detectar um padrão de comentários. Ou seja, na caixa respectiva, os multi identitários anónimos vêm, de mansinho, e a coberto de responsabilidades, lançar a suspeição, a dúvida, o aviltamento. Alimentar autos de fé particulares com mais gasolina. Colocar mais merda no ventilador, como dizem os nossos confrades brasileiros. Os temas são invariavelmente a política e os políticos locais. A dança dos cargos e das sinecuras. As prebendas e as comendas. A transumância das influências e dos notáveis. Se este ou aquele gere bem a sua capelinha. Se a terrinha do anónimo é melhor do que as outras. Porque dotada de líderes clarividentes, bem colocados na roda dos mandarinetes paroquiais em exercício. Medíocres incensados pelas estruturas de veludo partidário. Pequenos e médios orgiastas e régulos avulso, que num país decente não passariam da tarimba e da continência. Porque as tais terrinhas possuem uma dinâmica imparável. Porque são um autêntico berçário de virtudes, diante das quais as terrinhas confinantes deveriam somente praticar a inveja, ou, no limite, a genuflexão regulamentar. A razão profunda para esta pobreza de ideias e de projectos, está onde? Na inveja e na pequenez. Algo que  Pacheco Pereira retratou recentemente de forma exemplar no seu blogue: (...) a inveja era um poderoso sentimento nacional, impulsionada pela fome social e pelo ressentimento. (...) não nos enxergamos. (...) o subdesenvolvimento estava na enorme preguiça mental que atravessa tudo, da comunicação social à política. (...) num país em que somos todos primos uns dos outros, é difícil a democracia. (...) os bens são escassos e a fome é muita. Portanto, se o mal é nacional, na Guarda é trágico. A qualidade dos políticos é sofrível. A maioria depende dos cargos que ocupa e das influências e notoriedade (muitas vezes de papelão) que por essa via conseguem. Mas não existe um espaço público onde essa realidade seja discutida olhos nos olhos. Portanto, a solução é ir para as caixas de comentários dos blogues e anonimamente depositar o fel, açaimar o boato, empilhar a suspeição, promover interesses e amigos. Afinal, o anonimato até pode prevenir um futuro convite para o lugarjinho, ou axim. Ou seja, pouco mais do que o reflexo distorcido da mesma realidade que se pretende denunciar. Quando aquilo que falta na Guarda é precisamente a audácia, o destemor, a iniciativa, romper o compadrio, trabalhar, criar mais valias...

Sem comentários:

Enviar um comentário