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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A tempestade

Caiu mais um nevão na Guarda. And so what? Uma ocorrência perfeitamente banal, que nada tem de extraordinário, como é sabido. Aliás, a neve é um elemento crucial na iconografia da cidade. No entanto, sempre que aparece, dá ideia de que caiu o Carmo e a Trindade. A cidade pára. As escolas, sem excepção, fecham. As repartições estão a meio gás. Os compromissos cedem. Os eventos agendados são adiados sine die. Um manto de displicência, irresponsabilidade e catastrofismo parece ter-se abatido sobre a cidade, em vez de cristais de água. Repare-se que, preferencialmente, encerra tudo o que é público. As entidades privadas, no geral, estão a funcionar. E o que fazem as autoridades? Sobretudo comunicados. O Serviço de Protecção Civil, em vez de actuar como uma central de operações, resume-se a aparecer como uma central de comunicações redundante. Onde a inspiração parece vir inteirinha de Monsieur de La Palisse (o tal que 5 minutos antes de morrer ainda estava vivo). Podem ouvir-se coisas como: "saiam à rua bem agasalhados", "cuidado a circular nos passeios", "se andarem de carro, levem o todo o terreno", "não se prevê que a a circulação se altere nas próximas horas", "prevêem-se melhorias para amanhã", etc. Por outro lado, não se vêem viaturas próprias para remover a neve e o gelo das vias. Não se vêem equipas a trabalhar, mas tão só os jeeps da Protecção Civil a fazerem a ronda e nada mais. Afinal, esta gente é paga para quê? E ainda por cima, ao serem criticados pela opinião pública, reagem como se estivessem isentos de avaliação. Para quando a Estação de Limpeza de Neve, prometida há anos? Conheço países onde a neve faz parte do quotidiano, sendo portanto encarada não como um elemento perturbador, mas eventualmente poético. Na minha cidade, é todos os anos mais do mesmo. Salvem-se as fotografias, o divertimento, a poesia. E o silêncio.

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