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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Nobre versus novilíngua

Começaram anteontem os debates a dois, nas várias televisões, entre os  candidatos às eleições presidenciais. Para abrir a sequência, o país pode assistir ao round que opôs Fernando Nobre e Francisco Lopes. Percebeu~se claramente que Nobre não teve dificuldade em encostar o comunista às boxes. O último vinha bem preparado, com a habitual cábula minimal repetitiva. Para além dos soundbites habituais do discurso dos comunistas portugueses (e dos admiradores de Enver Hoxa), onde 1+1 é sempre igual a 1, avançou com uma naipe de acusações a Nobre. Assim tentando "demonstrar" a sua incoerência, a volubilidade da sua candidatura, confrontando-o ad nausem com a sua alegada posição contraditória face ao OGE. Ao mesmo tempo, tentava-o associar à real politik, por via de alguns comprometimentos no passado, apontados a dedo e retirados dos arquivos bolorentos da Soeiro Pereira Gomes. Nobre não precisou de muito para "desmontar o boneco". Afinal, quem aceita ser candidato a Chefe do Estado devido a uma decisão de um sinistro Comité Central, conseguida, imagino, pelo sistema de sorteio, bola branca bola preta, não merece grande consideração. E demonstra estar tão mergulhado no sistema como as forças do mal que os seus acólitos tanto diabolizam. E certamente Lopes nunca conseguiu criar um único emprego, como lhe apontou Nobre. Todavia, aposto que já conseguiu destruir muitos, devido à conhecida intransigência negocial dos sindicatos controlados pelos comunistas. Em suma, limitou-se, ao longo do debate, a blindar o seu eleitorado e pouco mais. Nobre fez o que lhe competia e o que sabe sem esforço: ser compassivo, inclusivo, transversal, universalista. Por outro lado, percebi com clareza, se dúvidas houvessem, a natureza do discurso estereotipado e autista dos comunistas. E de como constitui uma afronta à inteligência. Viu-se perfeitamente que o funcionário do PCP, a quem entregaram a "gloriosa" tarefa de se candidatar, não está habituado a este tipo de interlocutores. O PCP vive no mundo da fantasia, onde as palavras substituem as coisas, as profecias valem como objectivos, os conceitos ocultam a realidade e a esquizofrenia anula o mais ténue vestígio de honestidade intelectual. Ter pela frente um verdadeiro lutador, como Fernando Nobre, um homem cujo palco privilegiado tem sido afrontar uma realidade de que as estatísticas não falam, onde há que decidir depressa e sem esperar recompensas, é pedir demasiado a gente tão limitada. E o que é pior, rebater um discurso que, por não ser politizado, é terrivelmente político, que escapa à lógica comezinha e totalitária da novilíngua orweliana dos comunistas, deve ter sido aterrador para o zelota Lopes.

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