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sábado, 19 de junho de 2010

A hora da verdade

Saramago, o antigo aparatchik, distinguido no capítulo dos saneamentos políticos no DN durante o Verão Quente de 75, anda a fazer pela vida. Desta vez, lançou uns mind games promocionais, assim mais teosóficos, acerca do Antigo Testamento. Logo transformados no centro do debate na esquálida "praça pública" da Nação. Afinal, o homem não disse mais do que outros já disseram sobre o tema. Só que se trata de um nobelizado, um intelectual "progressista", apreciado por muita gente com a escolaridade obrigatória. No entanto, Saramago é talvez o maior equívoco da literatura nacional do séc. XX. Escreve bem, o que é discutível, mas nunca foi um bom escritor. Vale mais uma só obra de José Cardoso Pires do que toda a sua litania prosélita, que alguns confundem com literatura. Como cidadão, a arrogância e o ressentimento social precedem-no à légua. Porém, a sua prestação mediática é-me absolutamente indiferente. Entretanto, a criatura lá vai parindo uns volumes, tentando imitar os sul americanos. Desta vez, para aumentar as vendas de "Caim", nada como uns bons soundbites, em registo agitprop. Um tique que lhe ficou dos tempos leninistas. Mas cuja eficácia, em termos de marketing, tem chegado e sobrado. Portanto, temos um escritor medíocre, esganiçando-se na tasca a dizer "mal da padralhada". Ou seja, um pregão tonitruante que anuncia os seus serviços... Esquecendo-se que barafustar "contra a padralhada" é uma espécie de socialismo para idiotas.
Nota: escrevi este texto há uns meses atrás, na altura em que o escritor lançou a sua última polémica e o  seu último livro. Nunca apreciei a criatura nem os da sua laia. Porém, ao contrário de muitos, que agora lhe tecem loas na  hora da morte, retomo a opinião de sempre. Mas saberei naturalmente respeitar a sua memória e dimensão.

11 comentários:

  1. Mesmo assim ele é muito importante para a língua portuguesa.

    www.casdamasceno.blogspot.com

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  2. o comunista saramago despede 24 trabalhadores e é o fim do mundo, é arrogante, é velhaco, é isto e aquilo, e além de mais não vale nada como escritor, e os suecos são parvos, e o Prémio Nobel afinal não vale nada. os liberais, católicos, bem pensantes economistas levam esta merda à bancarrota, despedem aos milhares, e é a economia! Toma lá um doutoramento honoris causa em literatura!

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  3. Vamos por partes, como soe dizer-se (esta expressão tem o seu quê de sinistro, se dita por um talhante). 1. O escritor Saramago. O homem até podia escrever bem, mas nunca foi um grande escritor. A modernidade passou-lhe ao lado. Prefiro um só livro do José Cardoso Pires à obra completa do laureado. Se os académicos em Oslo lhe atribuíram o Nobel, o problema é deles. Já têm optado por outros escritores menores, depois de esquecerem Borges. Portanto, as suas preferências não definem o mérito, mas a oportunidade. 2. O cidadão Saramago. Não aprecio, pelas razões expostas, pelo que fez à Maria Velho da Costa num célebre episódio e porque, genericamente, associo intelectuais comunistas após a queda do Muro a arrogância e desonestidade intelectual. 3. Quanto aos liberais católicos e bem pensantes que despedem aos milhares, só me apetece dar uma gargalhada. Quando e se tiveres algum argumento convincente para rebater os meus, be my guest.

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  4. 1) É natural que a modernidade lhe tenha passado ao lado - para quem ainda não deu conta, a modernidade acabou em meados dos anos 30.

    O Jorge Luís Borges, como o Louis-Ferdinand Céline, o Yukio Mishima, e outros - por mais que gostemos deles, que as suas obras sejam monumentos literários, ao contrário do que se afirma, não foi a Academia Sueca (em Estocolmo, e não em Oslo - capital da Noruega, cujo Parlamento têm a incumbência de atribuir o Nobel da Paz, todos os outros são escolhidos por instituições Suecas), dizia, não foi a Academia Sueca que se equivocou. Somos nós, seus admiradores que estamos equivocados: Eles simplesmente não cumpriam os pressupostos do Prémio Nobel da Literatura, tal como Alfred Nobel o legou à Humanidade.

    Amigo António, devias reler Henry Fielding. Não é a Literatura que faz os Escritores, são os Escritores que fazem a Literatura.

    Seria preciso fazer um estudo sobre o tema, porém julgo que a maioria dos apreciadores da obra de José Saramago tem bem mais que a escolaridade obrigatória. Contudo, isso é irrelevante. E preconceituoso. Não consta que Jesus Cristo tivesse biblioteca...

    2) O cidadão Saramago, felizmente, era uma pessoa. Com virtudes e defeitos. Ainda bem que não era Santo. Ainda ia parar a algum altar, o que não convém nada a um Ateu... Eu, pessoalmente, prefiro a Literatura comprometida, que a Literatura para entreter burgueses. Prefiro saber de que lado estou.

    3) Era justamente a gargalhada que pretendia da tua parte.

    Prefiro um único poema de Sophia, ou de Eugénio, ou de Pessoa, ou de Sá-Carneiro, ou de herberto, a muitos dos laureados com o Prémio Nobel. E agora, o que é que isso tem a ver com o caso? By the way, José Cardoso Pires é um dos meus escritores preferidos. E depois? O Joaquim Paço d'Arcos era um grande escritor, e caiu em desgraça... e depois? O Ferreira de Castro era um grande escritor e caiu no esquecimentos... O que é que isso tem a ver para o caso? e o Altino do Tojal, e o José Gomes Ferreira, e o Vergílio Ferreira (como eu gostava que tivesse ganho o Nobel!) e o Miguel Torga, etc, etc, etc... O José Saramago não era um bom escritor? Então ainda bem que houve este grande equívoco na Literatura Portuguesa (e Mundial) do século XX/XXI!

    Coitado do António Lobo Antunes, se algum dia tivesse tido o azar de ganhar o Nobel...

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  5. Caro André:

    Outra coisa não esperava de ti do que uma condução elevada da discussão como acabaste de fazer. Todavia, como os gostos não se discutem, e o tamanho do fosso, neste caso, não permite que nos ouçamos, pela minha parte nada mais tenho a acrescentar ao que já escrevi.

    PS. Um anónimo veio "denunciar" o que chama um "desprezível marialvismo" neste blogue. Só porque não faço a conveniente genuflexão ao escrevinhador nobelizado. Palavra que já não ria com tanto gosto há muito tempo!!! É que, pelos vistos, ainda há quem não saiba aceitar que cada um pense pela sua cabeça. Hábitos estalinistas. Bem ao gosto do autor da "Jangada de Pedra". Mas por muito que tente, ó anónimo, este blogue é um espaço onde a liberdade se leva a sério. Sabe o que isso é?

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  6. bela adormecida20 junho, 2010 23:32

    Dá-lhes Gil! O Saramago nunca prestou como escritor. Mas pior ainda é ver quem nunca leu um livro dele a associar-se ao velório...

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  7. António, acima de tudo gosto de Literatura! Gosto do Saramago, como gosto da poesia da Fénix Renascida. Infelizmente (e muito por culpa do próprio!) mistura-se o escritor Saramago com o homem Saramago. E, quanto a mim, o escritor Saramago era um bom escritor. Como o eram Knut Hamsun, ou Yukio Mishima, ou o Português Joaquim Paço d'Arcos. Como o é Agustina Bessa-Luís. Ao menos lê o Ensaio sobre a Cegueira.

    Abraço.

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  8. Oa últimos livros dele substituem com vantagem o Xanax...

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  9. Gostaria, pela última vez, de falar-vos acerca do patusco anónimo que citei. trata-se do mesmo que afirma que os romances do José Cardoso Pires são baseados nos romances policiais americanos. Revelando assim não só um sólido conhecimento literário, como um antiamericanismo que o trai enquanto paradigma da esquerda parada no tempo. Seja como for, as regras deste blogue são claras: são são admitidos comentários insultuosos e despropositados. Vale?

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  10. Gil, não dês corda a esses esquerdalhos cheios de caruncho.

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  11. Sobre o Zé Cardoso Pires

    Alguém conseguiu ler o "Alexandra Alpha" sem abandonar o livro a meio num misto de gargalhadas e sorrisos amarelos de confrangimento?... É certo que há o Delfim, bom, mas sobre-valorizado; há também o Dinossauro, que cavalga no anti-fascismo e por aí fez multiplicar as edições e as vendas; há ainda o "de profundis...", poema bonito sem grande conteúdo; e, entre muitos outros há, é claro, esse monumento ao plágio e à banalidade que se chama "balada da praia dos cães".

    No entanto, há dois livros da sua autoria de que gosto, nem sempre pela qualidade literária, que se mantém muito baixa com demasiada frequência, mas principalmente pelo significado do conteúdo: "Cartilha do Marialva" e "Anjo Ancorado".

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