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sábado, 17 de abril de 2010

Macaronésia

Por uma vez, concordo com Mário Soares. Diferendo de opiniões, note-se. Que não belisca sequer o reconhecimento da linhagem sólida, que distingue os grandes políticos, de que Soares faz parte. Não é preciso um grande esforço para o imaginar preteritamente nos magníficos jardins de Sanssouci, disputando acaloradamente a voltagem do iluminismo, em amena tertúlia com Frederico o Grande. Ou até mesmo na fantástica biblioteca circular do "petit palais", elegido pelo monarca como sua residência de Verão. Um local onde, afortunadamente para Soares, abundam os livros e escasseiam os dossiers... A coisa aconteceu num colóquio efectuado ontem no ISCTE, em Lisboa. O ex-exilado em S. Tomé defendeu, inequivocamente, que Cabo Verde nunca deveria ter alcançado a independência. Para isso, aponta conhecidas razões de ordem histórica: a ausência de uma tradição independentista no arquipélago, a exigência de um referendo sobre a questão, que não se chegou na altura a concretizar e, sobretudo, não ser a independência um objectivo político declarado das elites locais de então. Efectivamente, as vantagens da criação de uma Macaronésia nacional (obviamente excluindo as Canárias) que englobasse também Cabo Verde, seria um trunfo económico e geo-estratégico de valor incalculável para Portugal. E, acredito, Cabo Verde só teria a ganhar se incluído no espaço económico e social europeu, ainda que com o estatuto de região ultra-periférica. Last but not least, aduziria uma razão de carácter particular para esta tomada de posição: garanto-vos que, se Cabo Verde fosse (ainda) território nacional, era lá que me encontrariam certamente.

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