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sábado, 27 de março de 2010

A procissão do Passos

Passos Coelho é o novo presidente do PSD. Quais os ingredientes da longa marcha que antecede? Uma preparação férrea, os apadrinhamentos convenientes, as vagas e misteriosas retiradas académicas, a conquista interna dos sindicatos do voto, os soundbites certos no local e hora apropriados, a campanha à americana, a chegada num andor... Eis os sinais que compuseram a entronização do antigo líder da JSD à frente do outro partido do Bloco Central. Por detrás, esteve a nebulosa clientelar do aparelho, sustentada pelas autarquias, alguns condottieri como Santana, o maluquinho de Gaia, Menezes qualquer coisa, o inenarrável Marco António, umas fulanas com ar (só ar) de veras lagoas, que aparecem nos congressos com tiques histéricos... Em síntese, um conjunto sinistro e bem agarrado aos seus interesses e aos seus jogos de influência, completamente deste mundo, e às suas fixações paranóides. Pois é só disso que se trata. O PSD revelou aqui um afastamento das suas origens como partido de base popular, da "sociedade civil". Assemelhando-se cada vez mais, na sua caracterização, aos partidos do circuito do poder da segunda fase da Regeneração liberal - o pós-fontismo - com Hintze Ribeiro e Luciano de Castro eternizando-se no Governo. Ou seja, nem uma ideia, nem uma leitura arrojada da actualidade, nem sombra de debate, nem vontade de rupturas, incorporando alguns temas liberais e tirando algum partido do estertor ideológico, mas sobretudo moral, de certa esquerda. Nada. É então esta a direita com expressão partidária que temos? O corpo político cuja nova cabeça é uma espécie de Sócrates bem arranjadinho e sem licenciaturas duvidosas? No meu caso, este jogo de espelhos até vai facilitar a vida. Se fosse outro o candidato vencedor, talvez uma simpatia natural impedisse a crítica distanciada e pertinente. Todavia, graças ao novo líder e sua entourage, fiquei com um magnífico campo de tiro à disposição. Ou seja, baterias assestadas e fogo à discrição!... Boa Páscoa e amendoinhas...

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