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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Meu amor sem nome

Há muitas razões para legalizar o que existe e segue uma certa prática, e mesmo algumas regras. A guerra, que por já várias vezes foi posta fora da lei ou desencadeada para acabar de vez com todas as guerras: não acabou. A droga, que obedece a certas regras e está até na origem da sobrevivência e do desenvolvimento económico de povos e zonas do Mundo: talvez só se drogue quem quer, dizem. A escravatura ou a pirataria, que ainda existem. Quanto à escravatura, há associações dos direitos de quem se submete ao tipo de escravidão sado-masoquista. Temos os vulcões, as catástrofes, as pragas, que obedecem a regras.

O Tribunal europeu dos Direitos do Homem aprovou o conceito de «casamento abrangente» que se alarga ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, à adopção de filhos e que se pode combinar com inseminação artificial. Está em causa ainda o casamento poligâmico ou poliândrico que são costume entre outras culturas, nomeadamente a islâmica, ou mórmon, cujos membros se podem estabelecer entre culturas onde a lei nunca permitiu esse tipo de casamento. Tudo o que é possível passa a ser apenas exigido que venha à luz e se regularize, que seja apreensível pelo cumprimento de certas regras. Assim foi com a guerra, que começou por ser algo onde as regras não existiam e se tornou algo disciplinado. Como a pena de morte. Como a prostituição. Mas não é o facto de seguir regras que faz duma prática algo que nos satisfaz. E o que não nos satisfaz, nós queremos corrigir. Sobre o que é satisfatório ou não, há dois critérios: o que pensa a maioria e o que pensam as pessoas interessadas. Ora, no caso dos casamentos gay, há duas combinações possíveis: há interessados que querem e a maioria aprova. Já o mesmo se não passa com as organizações que perfilham a ideologia fascista: a Constituição diz que a maioria as proíbe embora os interessados as queiram. A igreja satânica pode deparar com um problema semelhante: os interessados querem-na mas a maioria rejeita-a em nome da ordem pública ou dos «bons costumes». Talvez a maioria venha a consentir. O mesmo se passará com o conceito de «Portugal», ou de «Estado», de «Lei», de «Sexo», de «Vida», de «Amor», de «Vida Humana», de «Homem», de «Propriedade», de «Liberdade». Todas as palavras são relativas e quem lhes define o alcance, é a conjuntura, às vezes a Força, da maioria, às vezes a maioria do dinheiro. Quem não tiver força, não poderá resistir, até que arranje força, porque, desse modo, tudo será permitido para alargar o conceito da palavra. Sempre foi assim, dizem.

Ora não há casamento, matrimónio, marriage, Heirat, etc., sem um esposo e uma esposa, sem um noivo e uma noiva, pelo que não pode haver um casamento entre um Homem e um Homem ou entre uma Mulher e outra Mulher. A palavra foi forçada, porque ninguém quis ouvir que uma palavra tem um conteúdo mais estabelecido do que aquele que lhe queremos dar. Podem inventar uma palavra qualquer para o «casamento gay» mas não será casamento, ou então, o casamento semelhante ao «casamento gay» não será mais um casamento e as pessoas que se querem casar já não o poderão fazer apenas pelo civil, de modo a perceber-se que significado da palavra assumiram se não estavam bêbedos ou forçados. Assim só se estimula que as pessoas adoptem um código de conduta e um significado das palavras que não seja aquele partilhado e debatido pelo público, mas aquele que entenderem, nomeadamente o de seitas fundamentalistas de todos os tipos. É que, o que se diz, não é o que cada um pensa ou o que pensa quem tem a força de impor um significado. Há-de ser um caminho intermédio entre o que cada um pensa e o que a maioria quer. Mas nem o que cada um pensa nem o que a maioria quer são critério para dizer que o céu é «azul» ou que a lua é «branca». Nem mesmo o que todos pensavam, muitas vezes, se revelou ser verdade. Às vezes, um, só, estava certo.

André

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