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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Lido

Depois do Haiti. Deus.

- Comeu-se demais na terra – gritava o pai dela. Comeu-se demais e morreu-se demais. Disse o Papa que o Núncio em Port au Prince tinha sobrevivido. - Graças a deus – disse o Papa. E graças a quem morreram os outros? Graças a quem sofreram? Graças a quem ficaram assim, gente sem nome nas ruas de Port au Prince, entregues à ignomínia das câmaras e da ajuda internacional, ao cheiro da carne putrefacta, à banalidade dos corpos insepultos, dos membros amputados? Que deus é este que se invoca para a graça excepcional e se iliba da tragédia colectiva? O ridículo deus pós – conciliar, o deus dos homens cultos, um deus sem lugar num Universo pequeno demais para o esconder, um deus inútil que já não ameaça nem castiga, um deus mais insignificante que a cúria romana e o Paparmani.

Luís Januário, no "A Natureza do Mal"

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