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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Minimamente

foto de ensaio de Armando Neves/TMG

"Minimamente" tem estreia marcada no Pequeno Auditório do Teatro Municipal da Guarda. Será neste sábado, pelas 21h30. A interpretação estará a cargo de Agostinho da Silva, Albino Bárbara, Carlos Lopes, Cristina Fernandes, Filipa Teixeira, Daniel Rocha e deste vosso criado. O apoio à encenação é de Américo Rodrigues e a sonoplastia é de Victor Afonso.
1. O espectáculo. "Minimamente" foi construído a partir de "Histórias Mínimas", do dramaturgo catalão Javier Tomeo. Trata-se de um conjunto de 44 micro histórias desconcertantes, cuja primeira edição é de 1988. São crianças que partem a lua à pedrada, barbeiros que degolam os seus clientes, leões com dentadura postiça, oceanos que cabem numa garrafa, esqueletos que conversam no cemitério, estrelas que se apagam com um sopro. Ou seja, brevíssimas pinceladas escritas com um humor transbordante, com finura, onde o quotidiano se torna uma amostra do absurdo e vice versa. A peça pretende reproduzir este clima, onde as convenções da própria ficção não resistem à derisão de um humor cáustico e arguto. A encenação é atípica, ou seja, sendo colectiva é orientada por Américo Rodrigues. Como curiosidade, esta foi também a peça escolhida para a estreia do grupo "“As boas raparigas vão para o céu, as más a todo o lado”, no início dos anos 90.
2. O grupo. Tintinolho é um cume sobranceiro ao vale do Mondego, a 4 Km da Guarda. Onde existiu um importante castro, ocupado desde a Idade do ferro até à Alta Idade Média e cujos vestígios do imponente recinto muralhado ainda hoje são visíveis à distância. "Tintinolho" foi a designação escolhida para um projecto que reúne um conjunto de amantes do teatro, cujo primeiro objectivo foi levar à cena esta produção colectiva. A experiência teatral dos participantes é a mais diversa. O que não impediu, bem pelo contrário, que esta aventura fosse levada a bom termo. Para já, assenta-lhe bem a designação "grupo informal", ou "projecto". "Companhia" logo se verá...
3. Finale andante. O que posso dizer da minha experiência nesta aventura artística? Em certos momentos, encontrei os meus personagens pelo rasto que deixavam numa paisagem deserta. Era um olfacto canino que os reconstituía e uma memória audaciosa que os colocava no seu lugar provisório. Numa das suas faces, o teatro parte desta brancura imaculada do momento zero, do instante fundador. Uma economia profundamente humana, onde perscruto os meus personagens. Suspensos. Hesitantes. Amantes da música. Prisioneiros da cor do pormenor. Da vida derramada como aguarela num descampado. Onde os faço banhar numa bruma verbal delicadamente irisada. Seres encantadores e ineficazes. Criaturas bizantinas e patéticas. Idealistas inúteis. Sedutores por tédio. Heróis detentores de uma bela verdade humana. Fardo esse que não podem carregar nem evitar carregar. São personagens que tropeçam. Que tropeçam porque olham para as estrelas. Enquanto caminham. Que podiam sonhar, mas não governar.

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