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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Foi há 20 anos...

Cartier-Bresson, "O Muro de Berlim", 1963

As efemérides, embora sejam associadas à evocação cerimonial de um acontecimento passado, também designam tábuas astronómicas que indicam, dia a dia, a posição dos planetas no zodíaco. Confuso? Não. Há casos onde aquilo que não se pode mudar co-habita na mesma palavra com o que muda permanentemente. Como aqui. Onde uma palavra raramente tenha um sentido tão abrangente como quando se aplica aos acontecimentos que levaram à queda do Muro de Berlim. Nessa noite de 8 para 9 de Dezembro de 1989, encontrava-me em Estrasburgo. De visita ao Parlamento Europeu, na qualidade de dirigente estudantil. Soube o que se estava a passar através da TV. Percebi imediatamente que o "socialismo real" tinha perdido a guerra e que a Europa voltaria a ser uma unidade política. Acabei agora de assistir a um excelente documentário na RTP 2 sobre a história do Muro. Duas imagens a reter: 1º o efeito em cadeia da visita de Gorbatchev à RDA, convidado de honra do 40º aniversário da fundação do país. Porém, na tribuna era aplaudido por dezenas de milhar de manifestantes, que desfilavam e gritavam por Gorbi, ignorando os dirigentes comunistas alemães. 2º o discurso de Honnecker, nessas cerimónias oficiais, num edifício rodeado por uma maré humana que clamava por liberdade, mas onde aquele afirmava convictamente que "o socialismo na pátria de Marx e Engels estava assente em bases indestrutíveis"... Ocorreu-me também que, daqui a dez anos, o então secretário geral do PCP prestar-se-á de bom grado ao mesmo papel, no seu bunker, rodeado por meia dúzia de indefectíveis...

Publicado no jornal "O Interior"

Nota: Ler aqui outras memórias do Muro, de João Tunes.

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