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domingo, 28 de junho de 2009

Oração do espantalho

Desta ideia de que «sai para a rua» e tudo se resolverá, se estende uma sombra medonha. Não é um filme de terror, nem digo isto para me comprazer em dizer mal da Democracia. Em Teerão, as pessoas sabem tão bem como nós o branqueamento que acompanha as Revoluções. Mussavi, em fato escuro, com a mulher cheia de títulos académicos, pela mão, sabe melhor que ninguém que não escaparia a um tribunal dos Direitos Humanos. Nem o Ocidente. O miliciano que matou Neda, tinha cerca de quarenta anos, o que quer dizer que era um adolescente quando muito provavelmente foi combater para os campos de minas, na pior guerra que o Ocidente encomendou sobre o Irão. Uma juventude perdida é igual a um desvio de pontaria. O primeiro dever dum Estado e de todos os Estados é a Vida e a Morte. E, no meio disto tudo, deleitamo-nos decadentes com Farrah Fawcett há uns anos, quando ainda tentava ganhar dinheiro à conta daquilo que depois tentaria vencer, a exploração do seu corpo na ribalta. Com David Carradine, a busca de um moral budista, como desculpa, num actor filho de Hollywood, deixou-o morrer infame num hotel de Banguecoque. Com Michael Jackson, basta vê-lo no videoclip «I’m bad» para perceber o demónio, ardendo no Inferno, em que o tornaram. E, sobre os cadáveres dançam os desgraçados do «gay pride», festejando o fim de uma civilização que provavelmente teve o seu «Titanic» no avião da Air France sobre o Atlântico. Que guerra se seguirá? Frustrados por não termos tido a morte em directo dos três ícones, temos a de Neda, em Teerão. E prometem-nos que a crise se comporá, como não podia deixar de ser. Como se interrogou um general romano face a um centurião espantado com a carga de uns bárbaros sobre as legiões: estes deviam saber quando vão ser esmagados. Deviam?! Apetece-me gritar que o que vai triunfar é isso mesmo: o Socialismo e não a Democracia. Os derrotados de Waterloo não sabiam que morriam pelo futuro, um futuro em que os pés-descalços também tinham direito à cidadania. Sim, viva o socialismo, mesmo o socialismo por quem Niccoló Bombacci morreu de punho erguido ao lado de Mussolini e dos super-fascistas. Um socialismo onde o Bem Comum seja o nosso dever, o nosso Orgulho, a nossa realização. E que nisso, nessa certeza, nos seja finalmente dada a paz interior. S. Pedro, deixa-me entrar, pois fiz o melhor que pude para que todos pudéssemos entrar aqui um dia. E trago o meu canário, o meu gato e o meu cão, o meu vizinho irritante, o meu irmão desavindo e este espantalho em farrapos que fui eu, que me crucifiquei ao sol para que a seara florisse…

André

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