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quarta-feira, 24 de junho de 2009

"A Aversão", de André de Melo (1ª parte)

Antes do sol nascer, já dói o fígado a quem tem de se levantar.
Se espreitar pela janela descobrirá, então, um pequeno dia, completo, entre as casas. Às vezes há também a neblina que convém num frio atrevido e pica o novelo dos olhos estremunhados, convocando um espirro como uma bala na câmara.
Por outro lado, o arfar – primeiro, compassado, depois sem ordem - dos autocarros, já tinha atravessado o sono há muito tempo, ainda era noite cerrada, até o deixar exangue de anjos e prenúncios. Os boémios vinham esconder-se à pressa, por trás da porta vacilante antes de o sol - se viesse - cerrar o punho flamejante sobre a avenida, onde as manhãs não cantam, nem assobiam.
Longe dali, há orvalho e sarças, vegetação espinhosa, ainda ao alcance do mar. E a manhã pede licença. Os besouros e as cigarras cantam até mais tarde e há sempre alguém percorrendo um carreiro entre a vegetação que, a certo ponto, julga estar sozinho e começa a assobiar... ou até a dar até uns passinhos de dança. Ao longe escuta-se a sirene de um comboio. (ler mais)

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