A réstia de simpatia política que (ainda) tinha por Sócrates desvaneceu-se após o último Congresso norte-coreano dos socialistas. Desde o pós-25 de Abril que não me lembro de ver um primeiro-ministro ameaçando jornalistas em directo, numa tribuna pública. O que revela que Sócrates e a sua nomenklatura se dão muito mal com a liberdade de imprensa, com a independência do poder judicial, e com os famosos checks and balance, a arquitectura fundamental da democracia. A teia tenebrosa que, sob o manto do PS, se constituiu no mundo da Justiça, só agora começou a mostrar do que é capaz. Vejam-se as pressões sobre os magistrados que investigam. Veja-se o percurso do alegado autor dessas pressões, presidente do Eurojust. O tal que fez carreira política no interior do PS, com ligações à inacreditável Fátima Felgueiras, personagem particularmente sinistra, que reúne tudo o que de pior a democracia deu à luz. E cujos cordelinhos bastaram para que alguns artigos da reforma do processo penal fossem redigidos à la carte, claramente para lhe facilitar a vida. Sempre pensei que este assunto do licenciamento do Freeport traria à tona não a eventual responsabilidade criminal dos envolvidos, mas o cheiro nauseabundo da corja, atrás dos bastidores. A qual, vendo-se ameaçada, começou a sair das suas tocas, das suas sinecuras, dos seus limbos de impunidade. Sobre possíveis práticas ilícitas há indícios mais do que suficientes, neste episódio, que justificam uma investigação séria dos factos. Mas há outra coisa que não tem sido muito falada: Sócrates era na altura Ministro do Ambiente. Portanto, do ponto de vista político, o responsável directo pela condução do processo. Alguém lhe apontou responsabilidades a esse nível? Todavia, voltando à magna questão da mexicanização da vida pública nacional, se dúvidas houvessem acerca deste cerco à liberdade de expressão e às garantias de pluralismo e independência da comunicação social, para mim acabaram em definitivo. Um exemplo: por via do Pedro Correia, fiquei a saber que Sócrates acaba de processar João Miguel Tavares, jornalista do DN. Motivo: um artigo de opinião da sua autoria, intitulado justamente "José Sócrates, o cristo da política portuguesa". E que começa da melhor maneira: "Ver José Sócrates apelar à moral na política é tão convincente quanto a defesa da monogamia por parte de Cicciolina." Ou, acabando com um non sequitur, por parte de um mórmon, acrescentaria.
Subscrevo. Só peca por defeito.
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