Há umas horas atrás, pude escutar o início do discurso de José Sócrates, a abrir o congresso albanês do PS. O qual decorre em Espinho durante este fim de semana., como é sabido. Seguindo a clássica divisão da oratória popularizada pelo Padre António Vieira, o "querido líder", começou por exortar os celebrantes a apoiá-lo. Sim, já que a sua dívida de gratidão era imensa, e paga "al contado" a quem tamanha fidelidade lhe demonstrou, ao longo de quatro penosos anos. Não vou aqui analisar ponto por ponto o exórdio e a introdução. Queria apenas deter-me nas razões apresentadas para se candidatar a primeiro ministro nas próximas legislativas. Na altíssima ideia que tem de si, Sócrates declarou ter-se chegado á frente porque o país assim o exige. O mesmo país que anseia pela continuidade do seu programa político. O mesmo país que padece da falta de "alternativas credíveis". O mesmo país onde os spin doctors de serviço descobriram uma vaga de fundo imparável. Então pronto, já que o país tanto insiste, já que os portugueses esperam um santo milagreiro, ele avança! Vieram então os ataques à oposição, aos maldicentes, aos críticos, aos profissionais do bota-abaixo. Assunto onde o nosso Hohxa se demorou quanto baste. Evidenciando uma saudade irresistível dos tempos da ANP, onde a oposição ia para os calaboiços ou para o degredo. Até porque, caso único na nossa democracia, este Governo não teve oposição digna desse nome a perturbá-lo. Até porque o assalto à máquina do Estado pelo PS atingiu dimensões nunca vistas. Mas foi na última razão apresentada - a ética, a decência - que o discursante mais se expôs. Ou seja, forçou o discurso da vitimização até à náusea. Nada que não se esperasse. O escrutínio da opinião pública, da imprensa e dos próprios órgãos jurisdicionais, imprescindível nas sociedades abertas e democráticas, é reduzido por Sócrates a campanhas infâmes, orquestradas para manchar o seu bom nome. A maquinações destinadas a destruí-lo. Parecia uma sessão de terapia de grupo. Onde o celebrante necessita de inventar inimigos e fábulas conspiratórias para reforçar a coesão grupal. Utilizando um discurso onde nenhuma ideia pautava. Nenhum sinal de mudança. Nenhum sinal de uma nova leitura para um mundo globalizado e instável. Nenhuma resposta para a crise que comece por aceitá-la. Ao contrário de Obama, que não só enuncia os desígnios por que se bate, como diz porquê, Sócrates limita-se aos ajustes de contas domésticos, à infantilização, à pequena política. Ao precipício.
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