Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A mula

O senhor da imagem notabilizou-se, entre outras razões (vulgo, ter apoiado o "Zé" na CML, lançar umas postas de pescada na blogosfera), por participar num programa tipo "noites da má língua" e tal, na SIC N. Nessa rubrica, o títere da Praça das Flores debita uns soundbites esquerdalhos, de um reaccionarismo escandaloso. No estúdio, encontra-se devidamente acolitado pela estrela decadente "ferreira alves", "clarinha" para os happy few, mas que também assina simplesmente "clara", romancista frustrada e ex-santanete, a quem Vasco Pulido Valente dá deu uma coça monumental na blogosfera; o namorado da clarinha, apresentador; um "gajo das empresas", que debita algumas enormidades na área da economia e um outro, o único com quem simpatizo, a quem chamam "Paulo" e que escrevia, salvo erro, no blogue "Atlântico". Pois ontem o Oliveira, num arremedo de incontinência verbal, ultrapassou as marcas da simples razoabilidade e da mais elementar honestidade intelectual. Perorava o "tribuno" acerca das sensatas declarações do cardeal-patriarca, a propósito das cautelas do casamento com um muçulmano. Pois bem, a luminária afirmou então que, se em Portugal morrem anualmente 40 e tal mulheres vítimas de violência doméstica, o cardeal devia questionar o facto de alguém casar com um português. Pensei que estava a ouvir mal, mas era mesmo verdade! Para já, estas estatístivas são falsas, uma vez que só houve, no ano passado, 12 casos comprovados de morte devido a agressões no âmbito da violência doméstica. O ideal era não ter havido nenhuma, mas os números são estes. Depois o argumento é demagógico, ao estilo da velha esquerda, dona da verdade e da moral. É que, em Portugal, à semelhança dos países ocidentais que o Oliveira tanto odeia, a violência, seja ela de que tipo for, é criminalizada. E onde as mulheres não são agredidas publicamente porque não usam véu. E onde é reconhecida aos cidadãos a liberdade de terem ou não religião e a obrigação de não a imporem aos outros. E onde os prevaricadores, nos casos que referiu, foram devidamente julgados e condenados. Pelo contrário, nos países muçulmanos, as mulheres são maltratadas, sujeitas a um vexame constante, impedidas de exercer os mais elementares direitos de cidadania. Empurradas para uma sujeição feudal e patriarcal, que a religião impõe e o poder político encoraja. Todavia, nenhuma censura é dirigida a quem fomenta e beneficia deste estado de coisas. Por exemplo, para quem não sabe, nesses "paraísos de tolerância", segundo Oliveira, se uma mulher foi violada, corre o risco de ainda ser apedrejada pelos tais defensores da moral. Por outro lado, como disse e bem o "Paulo", os dirigentes religiosos podem diariamente dirigir "fatwas" a intelectuais, a dissidentes, a mulheres que tiveram a coragem de denunciar a opressão, a jornalistas, a países, a civilizações. Podem declarar à vontade o seu ódio, as suas ameaças, os seus incitamentos à violência. Mesmo assim, o imperturbável Oliveira e seus comparsas nem sequer pestanejam. Permanecem no seu limbo de ressentimento, de inveja social, de arrogância, de irresponsabilidade. Não esboçam qualquer indignação. Pois toda ela está concentrada na excomunhão do cardeal-patriarca, graças a um desabafo inóquo, que a esmagadora maioria das pessoas decerto subscreve. Acontece que, neste caso, sou insuspeito, pois várias vezes tenho aqui defendido posições em favor da laicidade e de não intromissão da Igreja na esfera das liberdades civis. Vem-me à memória, a certa altura, o delicioso final do conto "Civilização", de Eça. O narrador tem um sonho, onde, no Eden, Platão discute com o caseiro, autor das divinas favas. Entretanto, o atarantado Jacinto encontra-se às voltas no céu, montado numa mula escoiceante, à procura do seu paraíso perdido. Ocorre-me então imaginar o Oliveira no lugar perfeito para si: a mula. Em resumo, o senhor da imagem, à semelhança dos comparsas da "esquerda" gourmet, é cada vez mais um erro de casting: um "agitador" boçal, desonesto, primário, que ainda julga possível "épater les bourgeois". Uma crosta purulenta resultante de implantes cirúrgicos mal sucedidos. E que agora acedeu, de pleno direito, à galeria dos sacos de boxe predilectos deste blogue. Ao lado de Júdice, Menezes, Nogueira, Santana e Clara. Bem vindo!

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