Na sua ânsia desburocratizante, o Governo esqueceu-se de um serviço básico, esse sim, incompatível com delongas e papelada: morrer. Devo dizer, antes de mais, que hoje é incomparavelmente mais fácil, por exemplo, criar ou alterar uma empresa ou associação, registar transmissões de determinados bens, comprar casa, fazer um divórcio, pagar impostos (custa sempre, mas basta fazer um clique ou dois), consultar esses dados e corrigi-los, etc. Tudo o que facilite a vida aos cidadãos e empresas é de louvar. Então e a morte? Não é um direito básico poder escolhê-la? Quando todo os outros são negados ou impossíveis de realizar, não é esse o último reduto da dignidade? Proponho então que seja criada a "Morte na Hora". Um serviço integrado, universal, onde qualquer cidadão poderia planificar o seu decesso. Uma espécie de eutanásia à la carte. E como funcionaria? Muito simples. Caso o utente optasse por uma das modalidades pré-definidas (ser mordida/o por uma serpente venenosa, enquanto chamava todos os nomes possíveis e imaginários ao chefe onde trabalhou toda a sua vida, por exemplo) o serviço prestado seria grátis. Caso quisesse uma coisa mais elaborada (não querer de todo que a sogra fosse ao funeral, ou pretender ser infiltrada/o numa zona controlada pelos mujahedine e declarar bem alto que o Profeta tinha mau hálito, por exemplo), teria que desembolsar os euros respectivos. Como diz a canção "o sonho comanda a vida", o que cabe aqui inteiramente. Em qualquer caso, para desencadear o processo, bastaria a vontade correctamente expressa do cidadão, manifestada de forma livre, esclarecida e sem dependência de terceiros. Tudo o mais seria planeado e executado de forma expedita e sigilosa. Não fosse o diabo tecê-las...
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