Diz-se que Medina Carreira terá avaliado em dois mil milhões de contos o montante de dinheiros mal parados recebidos da Europa por Portugal ao longo de vinte e cinco anos; ou seja, mais de setenta milhões de contos desaparecidos, dados, esbanjados, mal aplicados e desviados anualmente pelas curibecas agora finalmente postas a descoberto pelas primeiras [e tremendas] revelações do escândalo que abala o país. Compreende-se, assim, o atraso, a impreparação, a falta de competitividade das empresas e dos trabalhadores portugueses. Se a esta soma quase cósmica aduzirmos os milhões de milhões de contos gastos anualmente com a fulanagem inútil que serve os aparelhos partidários - os eurodeputados, os deputados, os presidentes de câmaras, as assessorias (vulgo boys), as aquisições de serviços a familiares, amigos, primos e protegidos - trememos de espanto e indignação. Portugal não pode sobreviver se continuar entregue a tal camarilha devorista. Temos sido, literalmente, sugados até ao tutano por gente que nem para arrumadores de cinema presta. Tempos houve em que o Estado era rico, pagava mal aos seus servidores e dava o exemplo a um país pobre. Hoje, com o Estado pobre, brincamos impudicamente com a pobreza sem esperança de um país definitivamente encostado à berma da história e pagamos regiamente a funcionários de partidos que ainda têm o supino atrevimento de chamar parasitas aos funcionários do Estado.
Miguel Castelo-Branco, no "Combustões"
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