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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Sem mãos

É mais fácil escrever sem as mãos. Escrever sem as mãos acontece-me quando sei que sou mais, porque sinto que posso ser. A carne frágil das minhas mãos alucinadas, cheia de febre, é só uma morte espantosa. Aquilo que sobra do tempo que admira o texto mais calado. Olho as fotografias dos meus antepassados e nelas vejo apenas o silêncio que foi retratado. Uma luz que surpreende os meus olhos, como se esta decorresse sempre do princípio da noite. Não há um único texto nestes retratos. Agora o meu corpo aparece feito de estilhaços de pétalas e bátegas de vidro. Um fuso que desenrola a melancolia. Talvez não importe mais nada a não ser isto. Uma noite longa. Que me venha visitar de vez em quando, com as suas mãos de tecedeira. Que me recolha dentro do berço futuro do meu passado. Que me faça desaparecer das minhas mãos para as suas.

6 comentários:

  1. O Espírito que se comunica actua sobre o médium que, debaixo dessa influencia, move quinzenalmente o braço e a mão para escrever, sem ter (é pelo menos o caso mais comum) a menor consciência do que escreve; a mão actua sobre a cesta e a cesta sobre o lápis.
    Falar nas pausas do medo a medo liberdade de asas grandes depois.

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  2. Eu acredito que o Gil era o melhor Poeta que conheci. E que não deixe de o ser. A vida é cheia de instâncias e de estâncias. Os nossos melhores poetas esconderam quase sempre a sua face. Hoje, às 7da manhã, à Igreja escorrendo humidade onde vou todos os dias, cumprimentei um vagabundo e ele respondeu-me com cortesia, a cortesia que não se vê nas pessoas com emprego. Foi este mendigo que um dia me disse quando lhe ia a dar uma esmola" Obrigado. Hoje não preciso". Com isto quero dizer que aquilo de que a História falará, os jornais e a Televisão, nem fazem a mínima ideia.

    André

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  3. É como andar de bicicleta. Também é possível. :))

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  4. isto é prosa a pedir um serao na culturgest ou entao uma coluna no jornal do incrivel

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  5. mas a prosa aqui a serio, a prosaque é prosa, é muito boa

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