Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

sábado, 4 de outubro de 2008

O mobbing dos remediados - 2

Ainda a propósito do episódio que aqui relatei, o qual originou um fenómeno localizado de "troll", fui buscar as palavras sumamente apropriadas de Pacheco Pereira, num texto de 2006, que aqui poderá ser lido na íntegra. E sobre o tema em concreto, I rest my case, remetendo para o disclaimer ao lado, na caixa informação/contacto.

"No caso português, os comentadores não parecem ser muitos, embora a profusão de pseudónimos e nick names, dê uma imagem de multiplicidade. São, na sua esmagadora maioria, anónimos, mas o sistema de nick names permite o reconhecimento mútuo de blogue para blogue. Estão a meio caminho entre um nome que não desejam revelar e uma identidade pela qual desejam ser identificados. Querem e não querem ser reconhecidos. (...)
Imaginam-se como uma espécie de proletariado da Rede, garantes da total liberdade de expressão, igualitários absolutos, que consideram que as suas opiniões representam o “povo”, os “que não tem voz” os deserdados da opinião, oprimidos pelos conhecidos, pelos célebres, pelos “sempre os mesmos”. São eles que dizem as “verdades”. Mas não há só o reflexo do populismo e da sua visão invejosa e mesquinha da sociedade e do poder, há também uma procura de atenção, uma pulsão psicológica para existir que se revela na parasitação dos blogues alheios. Muitos destes comentadores têm blogues próprios completamente desconhecidos, que tentam publicitar, e encontram nas caixas de comentários dos blogues mais conhecidos uma plataforma que lhes dá uma audiência que não conseguem ter.
Não são bem “Trolls”, sabotadores intencionais, mas tem muitas das suas formas perturbadoras de comportamento. A sua chegada significa quase sempre uma profusão de comentários insultuosos e ofensivos que afastam da discussão todos os que ingenuamente pensam que a podem ter numa caixa de comentários aberta e sem moderação. Quando há um embrião de discussão, rapidamente morto pela chegada dos comentadores compulsivos, ela é quase sempre rudimentar, a preto e branco, fortemente personalizada e moralista: de um lado, os bons, os honestos, os dignos, do outra a ralé moral, os ladrões, os preguiçosos que vivem do trabalho alheio, e dos impostos dos comentadores compulsivos presume-se. O que lá se passa é o Far West da Rede: insultos, ataques pessoais, insinuações, injúrias, boatos, citações falsas e truncadas, denúncias, tudo constitui um caldo cultural que, em si , não é novo, porque assenta na tradição nacional de maledicência, tinha e tem assento nas mesas de café, mas a que a Rede dá a impunidade do anonimato e uma dimensão e amplificação universal.
O que é que gera esta gente, em que mundo perverso, ácido, infeliz, ressentido, vivem? O mesmo que alimenta a enorme inveja social em que assentam as nossas sociedades desiguais (por todo o lado existe este tipo de comentadores), agravada pela escassez particular da nossa. Essa escassez não é principalmente material, embora também seja o resultado de muitas expectativas frustradas de vida, mas é acima de tudo simbólica. Numa sociedade que produz uma pulsão para a mediatização de tudo, para a espectacularização da identidade, para os “quinze minutos de fama” e depois deixa no anonimato e na sombra os proletários da fama e da influência, os génios incompreendidos, os justiceiros anónimos, o “povo” das caixas de comentários, não é de admirar que se esteja em plena luta de classes."

4 comentários:

  1. Fogo no macacal! Parasitas sem rosto é o que merecem. Eu já tive um caso parecido no meu blogue.

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  2. Quando se trata de desratizar, todo o cuidado é pouco. Mas desculpa que te diga uma coisa: quem permitiu a publicação nos seus blogues de comentários reproduzindo textos que sabia muito bem terem sido retirados daqui,numa manobra de provocação e sem ter tomado uma posição, também não ficou muito bem na fotografia. Nada bem, mesmo. Ao fim ao cabo, são tão responsáveis como o autor da façanha.

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  3. Caro Pedro, obrigado pelo recado, mas neste momento essa preocupação já não se justifica,

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  4. Contra grandes males, grandes remédios...

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