Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Notícias sem importância

Esta manhã morri. Não passei ao outro instante. O mendigo Jean não aceitou que eu lhe pagasse a Coca-cola, porque um mendigo também tem rendimentos. E vou lembrar-me da sua voz, misto de mel e choro de criança, misto de revolta e de S. João Baptista protestando num Deserto cheio de gente e de automóveis. Afinal a crise não arrastou os frágeis e os desprotegidos. Ficámos os mesmos. Tirou-nos apenas uma batida ao coração, e agrupamo-nos de novo, com a língua de fora, em frente ao Multibanco mais próximo. Tenho pena da Madonna e do Guy Ritchie que se vão divorciar, com queixas como as de toda a gente. São tão pobres como nós e a vida neles não dura mais que ao comum dos mortais. Guy Ritchie teve o gesto nobre de não reivindicar os milhões da mulher, nem esta de clamar os milhões dele. Nós, menos nobres, precisamos do dinheiro para viver. Precisamos de viver dignamente, de não viver da Tirania da Wall Street, de se o Governo corta mais ou menos as taxas, se os preços são mais ou menos controlados. Precisávamos sim de um pouco de verdade, de sinceridade em que cada um “desopilasse” e ao desopilar – coisa maravilhosa – descobriria que tinha aterrado numa praça onde todos os outros desopilavam. Não seríamos mais que os flamingos cor-de-rosa, ou os pardais numa árvore, tímido gorjeio de uma gota de água antes de vir a maré. Sim, tens razão, preto velho: nascer é duro, morrer é ainda mais duro. Serás capaz de amar entretanto?

André

Nota: o autor inicia aqui a sua preciosa colaboração neste blogue.

Sem comentários:

Enviar um comentário