Está prevista a abertura, até afinal do ano, de uma livraria Bertrand na Guarda. O novo espaço ficará alojado no Centro Comercial Vivace, vai ter 160 m2 e disponibilizar cerca de 25 mil títulos em permanência.
Até agora, só tenho lido comentários entusiásticos sobre a notícia. Aqui e aqui, por exemplo. Embora compreenda a euforia que deles transpira, falta ainda falar do resto. E o resto é de tal forma vasto que não permite, sem mais nem menos, um alinhamento pelo coro entusiástico que tem acompanhado a boa nova. E porquê? Creio que a simples abertura da livraria não é, de todo, a panaceia universal para o acesso aos livros e para a dinamização da leitura na Guarda. É uma notícia reconfortante, mas só isso. Será pela simples acção da oferta que a procura irá aumentar? E que tipo de procura? A abertura de uma livraria na Guarda tem um impacto maior do que noutros locais, precisamente porque é a única. Mas os resultados concretos no terreno são comuns às outras. Sobretudo quando falta o principal. Ou seja: há um ano que não existe uma biblioteca pública na cidade; não se sabe ainda quando será inaugurada a futura Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço. Por outro lado, o estabelecimento será simplesmente um local de venda de livros, ou terá algo mais que faça a diferença, que crie hábitos, que fixe consumidores, que proporcione algum debate público: lançamentos, presença de autores, tertúlias literárias organizadas, etc.? Quanto à localização, não ficaria muito melhor na Rua do Comércio, um espaço nobre por excelência, onde um estabelecimento deste tipo é essencial para fixar o público, em complementaridade com outro tipo de comércio, tradicional, por exemplo? Será que se podem responsabilizar os cidadãos da Guarda, como já vi, pela não existência de um espaço livreiro em exclusivo? Obviamente que não. Aqui, as responsabilidades pela omissão vão todas para a autarquia, que pouco tem feito para convencer um grupo privado a que aqui instale uma livraria, pois a interioridade e a desertificação assustam os investidores do sector mais distraídos.
O que vai trazer de novo a Bertrand? Muito pouco. Graças às razões expostas. Mas também porque, quanto à variedade, pelo que tenho visto no estabelecimento congénere do Serra Shopping, na Covilhã, os títulos disponíveis de imediato são pouco mais do que os de um escaparate de uma grande superfície. Os preços proibitivos dos livros também não ajudam. Pelo que a alternativa das encomendas via internet continua a ser muito apetecível: pela imensa variedade, pela facilidade, pelo preço. Se uma livraria se quiser afirmar na Guarda tem que ser muito mais do que um armazém de livros. Mesmo pertencendo ao sector privado. Seria interessante estabelecer uma comparação entre os índices de leitura antes e depois da abertura da livraria. Eu não estaria muito optimista. (continuação)
Até agora, só tenho lido comentários entusiásticos sobre a notícia. Aqui e aqui, por exemplo. Embora compreenda a euforia que deles transpira, falta ainda falar do resto. E o resto é de tal forma vasto que não permite, sem mais nem menos, um alinhamento pelo coro entusiástico que tem acompanhado a boa nova. E porquê? Creio que a simples abertura da livraria não é, de todo, a panaceia universal para o acesso aos livros e para a dinamização da leitura na Guarda. É uma notícia reconfortante, mas só isso. Será pela simples acção da oferta que a procura irá aumentar? E que tipo de procura? A abertura de uma livraria na Guarda tem um impacto maior do que noutros locais, precisamente porque é a única. Mas os resultados concretos no terreno são comuns às outras. Sobretudo quando falta o principal. Ou seja: há um ano que não existe uma biblioteca pública na cidade; não se sabe ainda quando será inaugurada a futura Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço. Por outro lado, o estabelecimento será simplesmente um local de venda de livros, ou terá algo mais que faça a diferença, que crie hábitos, que fixe consumidores, que proporcione algum debate público: lançamentos, presença de autores, tertúlias literárias organizadas, etc.? Quanto à localização, não ficaria muito melhor na Rua do Comércio, um espaço nobre por excelência, onde um estabelecimento deste tipo é essencial para fixar o público, em complementaridade com outro tipo de comércio, tradicional, por exemplo? Será que se podem responsabilizar os cidadãos da Guarda, como já vi, pela não existência de um espaço livreiro em exclusivo? Obviamente que não. Aqui, as responsabilidades pela omissão vão todas para a autarquia, que pouco tem feito para convencer um grupo privado a que aqui instale uma livraria, pois a interioridade e a desertificação assustam os investidores do sector mais distraídos.
O que vai trazer de novo a Bertrand? Muito pouco. Graças às razões expostas. Mas também porque, quanto à variedade, pelo que tenho visto no estabelecimento congénere do Serra Shopping, na Covilhã, os títulos disponíveis de imediato são pouco mais do que os de um escaparate de uma grande superfície. Os preços proibitivos dos livros também não ajudam. Pelo que a alternativa das encomendas via internet continua a ser muito apetecível: pela imensa variedade, pela facilidade, pelo preço. Se uma livraria se quiser afirmar na Guarda tem que ser muito mais do que um armazém de livros. Mesmo pertencendo ao sector privado. Seria interessante estabelecer uma comparação entre os índices de leitura antes e depois da abertura da livraria. Eu não estaria muito optimista. (continuação)
Passo apenas para frisar que o meu comentário à abertura da livraria, no Húmus, está longe de ser entusiasta. Menos mal, digo eu outra vez.
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