Este Verão fui convidado para apresentar uma mão cheia de concertos em vários palcos, de norte a sul do país. Ia a dizer de leste a oeste, mas como se sabe, a medida da longitude é posterior à da latitude. Só foi determinada com exactidão em finais do séc. XVIII. O que causou muitos amargos de boca aos mareantes de antanho. Como se já não bastasse o escorbuto. Pronto, sei que esta foi de mau gosto, mas prometo que não repetirei. Assim, de Norte a Sul sempre transmite aquele à vontade e aquela vastidão de horizontes de que tanto gosto. Eles bem insistiram para que tocasse em público. "Eles" quer dizer: "Festival da Terra Queimada", na zona do pinhal; festival "Vala Comum", com música gótica e um suicídio colectivo no final, tudo incluído na EP; festival cerveja "Foster's", com direito a um boomerang e um kit de aulas de natação; festival "Novas Pautas, Novos Sentidos", uma coisa mais intelectual, com alguns coleccionadores infiltrados, estando prevista no programa a apresentação de vários músicos experimentais, um deles especializado na percussão de panelas de pressão com um polvo lá dentro e tampas de sanita a abrir e a fechar. Só que, apesar dos incontidos derrames lacrimais das legiões de fãs, não pude dar-lhes música. A razão deu-se numa bela tarde deste Verão. Tolhido num cadeirão de praia por causa de um entorse no pé esquerdo (já estou bom, obrigadinho), tive uma iluminação. Uma figura celestial chegou-se (primeiro pensava que era uma enfermeira com o anti-inflamatório) e assim falou: "ó ímpio tocador de instrumentos electrónicos, que com eles conspurcas os santos mandamentos, e que tal mudares de musiqueta? Não estás farto desses solos intermináveis, com um cheirinho dub, essas paisagens demoníacas do chill (não é o dos nitratos, ó anormal)? Arroja-te ao chão e pede perdão por tais blasfémias." E assim fiz. Seguiu-se um período de reconversão espiritual. Meti a viola no saco. Doei os samplers a uma sociedade recreativa de Bardaquém. Sou uma pessoa nova. Posso-vos contar a minha história se me enviarem 20 euros de sinal e outro tanto por cada capítulo. Dêem-me o número do vosso cartãozinho, que depois um colega espiritual aqui ao meu lado a palitar os dentes se encarrega do resto. Mesmo assim, como muito bem sabem, posso continuar a ser aquela músico enigmático, mas prolífico, que todos conhecem. Até vos posso mostrar o meu curriculum. O link segue a seguir. Querem ver, querem? Com fotografia, resmas de autores favoritos e uma frase assim intelectual e tal.
Embora não sendo o primeiro, recebi um comentário e este post, tentando associar-lhe uma pessoa determinada. Esta tentativa reflecte o deleite que muitas mentes doentias sentem em provocar, de forma rebuscada, a confusão onde ela não existe. Mas para acabar de vez com as dúvidas, impõe-se um esclarecimento, tão óbvio, que facilmente poderão comprovar in loco: 1. seja dentro ou fora deste blogue, quem eu critico, elogio, ou comento, tem sempre um rosto; 2. sempre houve e haverá espaço para argumentos discordantes, pois o contraditório é por aqui princípio indiscutível; 3. enquanto cronista, não deixarei, por vezes, de me inspirar em situações reais e pessoas de carne e osso. Mas elas são imediatamente deixadas para um plano distante, transfigurado, abstracto. São realidades que ficam intocadas e só circunstancialmente foram utilizadas para fins narrativos. 4. Situações em que alguém se revê, ou identifica outrem, num tipo ou num personagem de ficção, de forma particularmente não lisonjeadora,não são novas. Na esmagadora maioria dos casos, a responsabilidade pela associação é inteiramente de quem a faz; 5. Regra essa que este e quaisquer comentários no mesmo sentido se limitam a confirmar.
ResponderEliminarÓ Gil, não ligues a provocações. Segue sempre em frente e a escrever bem, como tens feito.
ResponderEliminarJá sei, o personagem é o José Cid daqui a 50 anos... lol
ResponderEliminar