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sábado, 30 de agosto de 2008

Que faria sem este mundo


que faria sem este mundo sem rosto sem perguntas onde ser dura apenas um instante onde cada instante verte para o vazio o esquecimento de ter sido sem esta onda onde no final corpo e sombra juntos se devoram que faria sem este silêncio sorvedouro dos murmúrios que anelam frenéticos por socorro por amor sem este céu que se ergue sobre a poeira do seu lastro que faria faria o que fiz ontem o que fiz hoje espreitar do meu postigo para ver se não estou só a dar voltas e voltas longe de toda a vida num espaço fantoche sem voz no meio das vozes encerradas comigo

Samuel Beckett [in Relâmpago, revista de Poesia, nº 13, 2003], trad. Manuel Portela

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