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domingo, 10 de agosto de 2008

Leituras

David Lodge, escritor inglês, (Londres, 1935) é hoje em dia um autor consagrado em todo o mundo. Com mais de uma dezena de livros escritos, cria em "Terapia" (ed. Gradiva, 1995) uma história que tem tanto de original, filosófico, ou satírico, como de hilariante, sendo por muitos considerado como o seu melhor título. O personagem principal é escritor de guiões. Depois de vários falhanços como actor, acaba, um pouco por acaso, por entrar no mundo da televisão ao escrever um guião para uma sitcom, "Os vizinhos do lado". Baseada na sua própria família e na da sua mulher, depressa a série alcança um enorme sucesso, levando-o a juntar uma considerável fortuna que lhe permite viver folgadamente. No início do livro, já ele, de seu nome Laurence Passmore, conhecido no meio televisivo por "bolinha" Passmore, está bem na vida. Mas as suas preocupações/obsessões andam a afligi-lo de uma forma impiedosa, levando-o à depressão. As mesmas que vamos acompanhando em jeito de diário escrito por ele próprio. Trata-se de uma obra onde David Lodge, através de um humor corrosivo, aflora de uma forma atenta e satírica a vida de um homem que, de repente, se apercebe que está a entrar na velhice. De uma sociedade e das relações humanas onde o sexo assume um papel catalisador nessas relações, visto e sentido como um escape para "tapar" certos "buracos" que a vida acaba por fazer. Longe de ser uma obra prima, este romance lê-se muito bem, dada a "ligeireza" do tema, a fluidez linguística e a forma directa como os assuntos são abordados. Mas onde não falta o humor, como convém.
"jogo com outros três inválidos de meia idade: o Joe, que tem problemas graves na coluna, anda sempre com um colete e mal consegue servir; o Rupert, que teve um grande acidente de carro há uns anos e coxeia de ambas as pernas, se é que é possível, e o Humphrey, que tem artrite nos pés e uma articulação da anca de plástico. Exploramos as dificuldades uns dos outros de forma impiedosa. Por exemplo, se o Joe lança a bola para mim junto à rede, atiro-a alto, porque seu que ele não consegue levantar a raqueta acima da cabeça e, se eu estou a defender junto à linha de fundo, ele troca constantemente a direcção da bola de um lado para o outro, porque sabe que não consigo deslocar-me rapidamente por causa da liga (no joelho). Ver-nos jogar é de chorar, quer por pena, quer a rir."
(Passmore, no apogeu do seu Síndroma da Disfunção do Joelho, vai realizar a partida semanal de ténis com três amigos seus, também nada famosos fisicamente).

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