Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

sábado, 9 de agosto de 2008

As vacanças

Não suporto o mês de Agosto. O papa Gregório esqueceu-se de o abolir, quando reformou o calendário. Para mim, este mês cálido, onde a vidinha triunfa em toda a linha, compele-me a ir precisamente ao gregório. Qualquer idiota vai de férias. Muitos blogues fecham para férias, quando aí é que deviam abrir. Mas podiam ir e pronto! Sem anúncios à freguesia. Mas fazem questão de dizer: "Olhem, seus invejosos, vou para aquele sítio que eu sei que sempre se lamberam por lá ir. Mas só eu é que lá vou, perceberam? Olhem para mim a mijar na árvore. Estão a ver? Experimentem cheirar e tenham coragem de mijar em cima!" "Penitenciem-se, seus falhados!" Há também os telegráficos. Dizem que vão, mas devido a uma necessidade qualquer de terem de se justificar, não dizem para onde. Só dizem que vão, metem um papel na porta, com uma nota de rodapé, "fechado para férias", ou "vou bazar, porque não? e nem sequer vos digo para onde, seus cuscos!" Aposto que, nesse segmento, vão quase sempre acompanhados com quem já têm que partilhar as suas penosas vidas. Um erro crasso. De principiantes. Mas lá estou eu a tergiversar. Afinal, este mês é excelente para colocar uma série de questões em dia: arrumar a biblioteca, telefonar a amigos com quem não se fala há muito, caminhar muito, escrever compulsivamente, tentar responder a algumas questões existenciais, pôr a dor em dia, a esperança em dia, as cores e as formas antes da mente lá chegar, como fez Cezanne, chegar aos lugares intocados, irredutíveis, a partir de onde se constrói a felicidade, tropeçar nas cordas estendidas e que afinal não são para atravessar, ir a sítios naturais que me são gratos e a outros que quero descobrir, ler "O Homem sem Qualidades", de Musil, despertar os sentidos, todos sem excepção, numa praia deserta. E mais não digo. Férias? De quê?

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