Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

sábado, 19 de julho de 2008

Ora essa!

entre outros acontecimentos editoriais da temporada, destaco a entrevista da escritora margarida rebelo pinto a carlos vaz marques para a revista ler, a tal que muitos consideram o expoente da chamada literatura light, que a páginas tantas chegou a desligar o gravador quando lhe subiu a mostarda, não aguentou a referência à polémica lançada por "couves & alforrecas: os segredos da escrita de MRP" (editora objecto cardíaco, 2006) de joão pedro george - que parte de um texto que publicou em 2005 no blogue esplanar, onde os expedientes criativos de mrp são dissecados de forma particularmente mordaz, retirado depois devido à publicação em livro, e graças ao qual a escritora e a editora oficina do livro interpuseram uma providência cautelar para impedir a sua venda - quando não conseguiu admitir que se repetia de uns livros para os outros, copy/paste afinal não é pecado na literatura que fala das coisas como elas são, mas não são, essa e que é essa, sem cedilha, as coisas nunca foram o que são, e a literatura nunca falou das coisas, mas que coisas, ora, para as semi-tias coisas são uma espécie de galeria de objectos bizarros, colecção almodôvar de carcavelos, escrever por necessidade, sei lá, ter sempre à mão uma colecção de situações comuns para pessoas comuns, guardar um ódio militante à misantropia cultivada pelos escritores, os tais que um dia se mandam pela janela, como o Sá-Carneiro e assim, diz ela, só que o Sá-Carneiro usou estricnina, manter as distâncias face ao cânone da crítica, ao pedigree da inteligentzia, mas bem, afinal somos todos mais parecidos do que parece, diz ela, então não somos?, esta impostura de uma burguesia urbana às voltas com a libertação dos costumes, mas ainda com o lastro do preconceito e da arrogância, ainda encarcerada no espartilho da culpabilidade católica, ainda tomada pelo quadro mental definido por António Ferro nos anos 30 para um Portugal do "folclore", dos "pequeninos" e da "paisagem" que é tudo o resto, a intérprete maior de uma metafísica em formato reality show, que não há maneira de descolar do solo ou do divã do psicanalista, que anda ali, e tal, um dia estamos cá, no outro já não, diz ela. pois, pois.

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