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quarta-feira, 25 de junho de 2008

Manual de sobrevivência a uma peça de Poppe

É hoje a estreia da peça "Os Sobreviventes", no TMG. Trata-se da última produção do Projec~, a partir de texto de Manuel Poppe e com encenação de Américo Rodrigues. A ficha técnica e restante informação poderá ser consultada aqui. Devo dizer que não tenho em grande apreço a escrita teatral de Manuel Poppe. Constituída por textos herméticos, solipsistas, povoados por lugares comuns, sem rasgo, onde os personagens se arrastam sempre atrás das mesmas dilacerações, dos mesmos receios, das mesmas falácias, desconhecendo em absoluto que o vazio é a nossa condição fundamental, que o truque está precisamente na aceitação dessa "dessacralização" que tanto assusta o autor, onde perpassa o choradinho em vez da coragem, ou seja "o conhecimento das coisas que um homem deve temer e daquelas que não deve temer", como dizia Platão. Provavelmente, Poppe leu demasiados autores franceses e pouco anglo-saxónicos. Provavelmente está demasiado refém de uma piedade burguesa, tão condescendente como anacrónica. Todavia, dada a qualidade dos intervenientes, espero ver um grande espectáculo logo à noite.

8 comentários:

  1. O problema de muitos escritores e artistas menores, como o caso de Poppe, é que padecem do síndrome de Salieri. Isto é, como intimamente perceberam que o talento nada quer com eles, tentam amesquinhar e silenciar os sítios onde ele se manifesta. Isso foi visível na entrevista que Poppe deu à revista "Praça Velha". Segundo ele, nada de importante se escreveu em Portugal nos últimos 30 anos. As gerações de escritores mais recentes pouco valem, segundo esta sumidade insignificante. E até mesmo Saramago e Lobo Antunes são reduzidos à vulgaridade. Pelos vistos, há gente que se leva de tal modo a sério que corre o risco de ninguém os levar como tal...

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  2. Caro anónimo:
    Não posso deixar de concordar com o que diz. Embora só no que diz respeito à produção teatral. Como cronista, Poppe é bastante razoável. Estive para comentar essas inenarráveis declarações produzidas na entrevista, mas à última da hora desisti. O meu objectivo é demonstrar que nesta cidade ainda há espírito crítico, apesar do absentismo e das beatificações avulsas.

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  3. Estive a ler essa entrevista. O fulano é um cómico ressabiado. Nem lhe devias dar importância.

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  4. Eu não dou, mas há quem dê sem saber porquê. No entanto, quando me aparecem estes cromos a apregoar uma ignorância abissal, um bucolismo de circunstância, um progressismo de opereta, burgueses armados em "resistentes", não me consigo controlar. Fico logo como o meu cão quando vê um cavalo. É irresistível. Adoro estes sacos de boxe politicamente correctos. São dos meus favoritos. Aleluia.

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  5. Espantado com "processos de intenção" gostaria de perguntar ao Godinho que livros de teatro de Manuel Poppe leu e se já leu também "Os sobreviventes", lançado há dois dias?
    Já agora, que ensaios e romance de Poppe leste? E,se não te importares de fundamentar a tua opinião, gostaria de saber como concluíste que ele era um escritor menor e como fundamentas a adjectivação com que o brindaste?
    Finalmente, queres falar da obra dele ou da tua discordância em relação ao que disse à Praça Velha? Ou, para ti, está tudo ligado?
    Abraço
    Américo Rodrigues

    PS- É uma pena que tenhas desistido de comentar a entrevista. Gostava muito de saber se usavas o mesmo processo "crítico" que usaste para falar da obra teatral.

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  6. Américo:

    Sei que gostas da obra dele e que acabaste de encenar uma peça a partir de um texto seu. Fica-te bem igualmente defender um amigo. Eu faria o mesmo. Não conheço toda a sua obra. Do que li, não gosto. Também não gosto de gente arrogante. Para já, em relação a ele, chega-me. Todavia, em rigor, o que conta a minha opinião? Afinal, não faço parte da imensa legião de autores que publicaram coisas nos últimos 30 anos e que, Poppe dixit, são pouco mais do que insignificantes?

    Abraço

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  7. Fui ver o espactáculo. O texto é realmente mauzinho. Mas a peça saiu-se bem de uma escrita tão desenxabida. Olha lá, disseram-me que aí na Guarda ninguém pode fazer críticas. É verdade?

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  8. Poder pode. Mas é um desporto radical. A imprensa local nunca faz críticas a espectáculos. Preferem o escândalo e os caciques que vão aparecendo. São sempre franco-atiradores que fazem esse trabalho. Mas há que ter cuidado. Uma vez fiz aqui uma crítica a um espectáculo do Sérgio Godinho e fartei-me de levar porrada.

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