A SIC transmitiu recentemente uma "reportagem" sobre a "os perigos da internet". O objectivo era notoriamente simples: denegrir a imagem dos blogues e da blogosfera; apagá-la como espaço comunicacional incontornável; aplicar os tiques e a miséria moral de alguns a toda uma comunidade em rede, que muito tem feito para o aparecimento de um verdadeiro espaço público no nosso país. E tudo isto imitando, precisamente, os métodos e as característica mais censuráveis da blogosfera. Tudo começa com declarações do "impoluto" Miguel Sousa Tavares, acusado de plágio num blogue, mas que enfia todos os bloggers no saco do anonimato e da cobardia. Repare-se, sobretudo, no facciosismo do pivot televisivo, acicatando os convidados à diabolização dos bloggers, identificando-os à partida como perversos sexuais, uma amálgama de mal-dizentes ressabiados e invejosos a que ninguém escapa, etc. Seguindo esta linha, os weblogs albergam unicamente o boato, a desinformação, a calúnia e a devassa da vida privada. O subtexto desta inanidade que passa por jornalismo era: "Olhem só esta cambada de malandros, estão mesmo a pedi-las! Um lápis censório vinha mesmo a calhar! Para ficarem a saber que o respetinho é muito lindo!", etc. Por outro lado, José Gameiro, o único convidado que contrariava o tom pretendido, era invariavelmente interrompido ou silenciado. Quer Moita Flores (um dos opinadores oficiais do regime), quer Rogério Alves, afinavam pela desonestidade intelectual, pela vitimização e pela censura no ciberespaço. Chegou-se ao cúmulo de incluir nas actividades correntes da blogosfera o branqueamento de capitais, o tráfico de armas e a formação de terroristas!... Já se sabia que os jornalistas sempre olharam para a blogosfera como se fosse o quintal das traseiras da respeitabilidade. Precisamente até editarem um blogue. Como é hoje a regra. Passaram então a importar para os jornais os piores hábitos da blogosfera. Esquecendo-se que as regras intrínsecas desta são distintas das dos meios de comunicação convencionais. Por outro lado, o alarmismo induzido contra os blogues, promovido por quem deveria analisar este mundo com serenidade, acaba por denunciar o pavor sentido por algumas figuras públicas - produzidas pela indigência televisiva, pelo défice crítico, pelo espírito de seita, pelo manto do amiguismo, pelo discurso oficial seguido informalmente pelos media tradicionais, pela genuflexão pavloviana, pela auto complacência, pelos sindicatos do gosto - de que o seu valor seja realmente escrutinado por uma opinião pública informada, livre e aberta. Em resumo, qualquer semelhança entre jornalismo sério e esta miserável emissão é pura coincidência.
As chamadas elites têm medo, muito medo...
ResponderEliminarO programa é realmente uma vergonha. O Moita Flores então é para esquecer...
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