Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

sábado, 12 de abril de 2008

Os benefícios do tabaco

"Finalmente, já posso andar de cabeça erguida!" Quem anuncia a boa nova aos sete ventos, presta um tributo, ainda que inconsciente, ao magma que tudo constrói e refaz, a seu bel-prazer. Aquilo que repõe a zeros o saldo contabilístico do declarante em relação à humanidade. O epílogo de um casus belii que se acredita ser a contento de todas as partes. Ocorrem-me duas situações onde este efeito analgésico se pode dar. A primeira é o expurgo da culpa, a absolvição de uma acusação que pendia sobre o próprio. A segunda, mais rebuscada, é a daquele que anda enterrado na merda até ao pescoço. Por isso, anda com a cabeça bem erguida. Pudera! Mas há ainda uma outra possibilidade, esta ainda mais desconcertante. Até porque, do ponto de vista fisiológico, é inatacável. Trata-se daqueles casos em que o levantar da cabeça é uma consequência natural da alteração do centro de gravidade. Que busca as suas causas no aprumar da coluna vertebral e distensão da caixa toráxica. E sabem porquê, meus amigos? Porque os alvéolos pulmonares começaram a ficar limpos. Tão só! Pois bem, 10 meses depois do tabaco, de já não sei quantas caixas de nicorette e de uma azia inenarrável produzida nos brônquios, a espaços, durante o seu processo primário de limpeza, eis que posso declarar, urbi et orbi, que já an... exactamente, caros leitores, de cabeça erguida! Claro que continuo enterrado na merda até aos joelhos, mas isso fica para outra lição de anatomia existencial.