Soube agora que o cinema Quarteto, em Lisboa, encerrou as suas porta no mês passado. Isto após a IGAC ter detectado alguns problemas relativos à segurança. Por outro lado, o seu fundador (1975) e proprietário, Pedro Bandeira Freire, está hospitalizado há três dias, sendo o seu estado considerado grave. A notícia está no "Público" online. Seria interessante imaginar o quanto aquele local, num gaveto da Av. dos EUA, representou para gerações de cinéfilos, simpatizantes ou curiosos do cinema. Para mim, era um regalo circular por aquelas salas, pois havia sempre um filme certo para a hora certa. Durante muito tempo, ir ao cinema, para o público que não dispensava a qualidade, era sinónimo de "ir ao quarteto". Era algo que nem sequer se questionava, precisamente porque ninguém o faz com as rotinas. Recordo com especial emoção as maratonas anuais com sessões contínuas, onde eram exibidos, em retrospectiva, os grandes títulos mostrados nos anos anteriores. E para assistir, bastava ter na mão um simples bilhete, a um preço simbólico! A coisa começava às 20 00h e acabava às 10 00h da manhã do dia seguinte! Valiam sempre os cafés "tipo" pólvora servidos no bar. Eram autênticas provas de resistência, mas sem esforço... Recordo-me também de uma figura lendária, um espectador crónico daquele cinema, celebrizado por mandar sonoras e solitárias gargalhadas, precisamente nas sequências mais avessas ao humor. O qual ele descortinava onde mais ninguém o fazia. Mas sem que alguma vez tivesse dado conta de alguém se importar com isso. Antes pelo contrário... Em suma, o cinema em Portugal muito deve ao Quarteto. E alguns dos meus sonhos nasceram lá.
NOTA: lamentavelmente, nos últimos 5 anos, o espaço entrou em franco declínio, tornando-se pouco mais do que um cinema de reprise. Um glamour decadente e fantasmagórico foi tomando conta dele, sendo agora o seu traço mais notório. Claro que é triste. Mas lembra-nos como tudo é efémero, passe o lugar-comum.