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quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Ser ou não ser

1. Não me espantaram as hesitações cirúrgicas de Sócrates ao longo da semana, relativamente à forma de aprovação, pela ordem jurídica interna, do Tratado de Lisboa. "História da carochinha" é como lhe chama, com propriedade, JPP. "Vómito", diz o Maradona. Considero que se trata, sobretudo, de teatro de má qualidade. Uma encenação medíocre para um remake de um monólogo hamletiano. Onde o príncipe, torturado pela dúvida e atemorizado pelos recados sibilinos que lhe chegam das cortes europeias, acaba por declarar à populaça que não teve outro remédio senão mandar assinar o novo regulamento da intendência pelo seu Conselho Privado. Afinal, o parco tributo que o remorso por uma promessa não cumprida teve que pagar à realpolitik. Com um episódio paranormal pelo meio, a "ética da responsabilidade". Kant deve ter espumado de indignação na sua cova. Mas se a encenação é má, o produto mediático é convincente. Por esse lado, a vida tem corrido bem a Sócrates.
2. Malgré tout, a solução encontrada, isto é, a aprovação por via de ratificação parlamentar é, sem dúvida, a mais acertada. No artigo "Quatro notas sobre o referendo", Rui A. explica de forma lapidar porquê. A ideia de que o processo de integração europeia pressupõe um conjunto de opções necessariamente vanguardistas foi decisiva na minha convicção. E não é pela ausência de um plebiscito desnecessário que os processos típicos de decisão democrática, ou a soberania dos vários estados-membros ficam diminuídos.

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