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quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Os comissários da memória

O Professor Rosas desdobra-se numa inusitada indignação por causa da presença da Fanfarra do Exército na cerimónia oficial da evocação do regicídio e da memória de D. Carlos, no próximo dia 1. O seu partido já apresentou mesmo um protesto em letra de forma no hemiciclo. O que levou o Ministro da Defesa a não autorizar a participação de unidades do Exército no evento. Pelos vistos, certa esquerda ainda se julga dona do regime e da História, sem perceber que se vai sumindo no limbo da insignificância emplumada. Desta vez, nos saldos das causas de ocasião, comprou uma guerra que já teve os seus dias de glória: Monarquia versus República. Para esse sector, repetir o óbvio é simplesmente redundante: a evocação do regicídio tem um significado, digamos, humanitário, antes de qualquer apropriação política. É um tributo público à memória dos que pereceram no atentado. Limpo, sem fantasmas. Quem os quer lá pôr são aqueles que não conseguem viver sem os agitar.
Esta polémica transporta-me para um episódio que hoje vivi. Quando me dirigia para casa, após os afazeres profissionais, sou abordado por uma equipa de reportagem da TVI. Perguntaram-me se estava disposto a responder a algumas questões. Porque não? Ora bem, para começar, adivinhem, se sabia distinguir a República da Monarquia. Depois, qual dos dois regimes preferia. À primeira lá gemi, bem espremidinho, o vulgo de Lineu. Quando à segunda, o caso foi mais complicado. Fiquei com aquela sensação por que todos passaram perante a sacramental pergunta a que nenhuma criança escapou: "então gostas mais do pai ou da mãe?" "Há monarquias onde não me importava de viver e certas repúblicas de que fugiria como um tigre da água e vice-versa. Portanto é só uma questão de fazer contas." Lá consegui dizer à menina. Tenho dúvidas que este "depoimento" seja incluído na reportagem, igual a tantas outras acerca do que pensa a populaça sobre isto e aquilo, a propósito de uma tema da actualidade.
Voltando ao caso da fanfarra, quem andou bem, mais uma vez, foi o historiador Rui Ramos. Eis alguns excertos da sua crónica de hoje no "Público". Chama-se "O nosso outro passado" e está lá o essencial.

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