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segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Blogues da terra (2)

A propósito da pertinência da recente lista de blogues regionais no "Arrastão" e destaques individualizados a um blogue por região, já aqui me pronunciei. Contudo, faltava uma abordagem à questão de fundo: o que permite classificar um blogue como regional? A colocação do sujeito ou do objecto num centro imaginário? A geografia? O móbil? A extensão do olhar? A linha editorial? A agenda? No fundo, combinando caso a caso cada uma destas hipóteses obteremos a resposta. Mas ela é frágil, não resistindo à prova dos factos: há blogues que, embora se auto-limitem a uma área, uma cidade, um bairro, uma região, fazem-no como se falassem para a paróquia e nada mais. Há outros, nas mesmas circunstâncias, que de tanto fazerem cintilar o terreno que focam, acabam por fazer dele um objecto valioso, universalizando-o. Por outro lado, invertendo o âmbito comunicacional em que o meio (o blogue) se coloca, já vi muitos quererem falar do mundo para o mundo e acabarem na paróquia, sem o saber. Portanto, haverá que acescentar mais um critério decisivo na arrumação, de ordem qualitativa: o modo de abordagem da realidade que se quer observar. Se empregarmos este critério com honestidade, ficarão de fora da categoria aqueles blogues que se limitam a enaltecer de forma patética as virtudes reais e imaginárias da "terra". Aparecem como autênticos panegírigos, cujo umbiguismo só tem correspondência em alguns blogues confessionais que tenho encontrado. Não os verdadeiros, mas aqueles que se disfarçam de outra coisa. No exemplo mencionado, esses espaços de exaltação desmedida deveriam ficar de fora desta arrumação, remetidos para a publicidade online da "marca" local. Há outro caso, mais controverso: os blogues focados em aspectos da vida política e social local, não numa perspectiva de serviço público, de acção de cidadania, mas numa simples decorrência da luta partidária ou corporativa. Exemplos: blogues de políticos locais no activo, de notáveis afectos a esta ou aquela força política, de cabeças de lista derrotados na eleição anterior, de uma tendência no interior de determinado partido, que assim faz valer as suas posições, de sindicatos locais, os puramente reverenciais em relação à situação política do momento, aqueles cuja razão de ser é o simples ataque intuitu personae ou o blog swarm, etc. Note-se que, em alguns destes casos, os blogues são anónimos. Confesso a minha dificuldade em considerá-los verdadeiros blogues regionais e não simples caixas de comentários para agendas exclusivamente pessoais. Mas aqui é a casuística que comanda. Em conclusão, creio que os verdadeiros blogues regionais são aqueles que falam da paróquia como se o fizessem para o mundo inteiro. Os que querem o mundo inteiro na paróquia são simplesmente provincianos.

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