Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Leituras de Natal

A D. Quixote acaba de publicar a última obra de Jonathan Littel : As Benevolentes (Les Bienveillantes). Trata-se das memórias de Maximilien Aue, um ex-oficial nazi, alemão de origens francesas que participa em momentos sombrios da recente história mundial: a execução dos judeus, as batalhas na frente de Estalinegrado, a organização dos campos de concentração, até a derrocada final da Alemanha. Uma confissão sem arrependimento das desumanidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, que provoca uma reflexão original e desafiadora das razões que levam o homem a cometer o mal. A tradução é de Miguel Serras Pereira. Um breve excerto:
"...continuei a ser dos que pensam que as únicas coisas indispensáveis à vida humana são o ar, o comer, o beber e a excreção, e a busca da verdade. O resto é facultativo (...). Se suspendermos o trabalho, as actividades banais, a agitação de todos os dias, para nos entregarmos seriamente a um pensamento, as coisas passam a ser completamente outras. Depressa as coisas começam a vir à tona, em vagas densas e negras. À noite, os sonhos desarticulam-se, desdobram-se, proliferam, e ao despertar deixam uma fina camada acre e húmida na cabeça, que leva muito tempo a dissolver-se. Nada de mal entendidos: não é de culpabilidade, de remorsos que aqui se trata. Isso existe também, sem dúvida, não quero negá-lo, mas penso que as coisas são muito mais complexas. Até mesmo um homem que não fez a guerra, que não teve de matar, sofrerá aquilo de que estou a falar. Regressam as pequenas maldades, a cobardia, a falsidade, os gestos mesquinhos que afligem todo e qualquer homem. Não é de admirar por isso que os homens tenham inventado o trabalho, o álcool, as conversas fiadas estéreis. Não é de admirar que a televisão tenha tanto sucesso. "

3 comentários:

  1. Todas as referêncais que tenho lido me garantem tratar-se de um grande livro. No último Ípsilon, o Eduardo Pitta critica muito positivamente a obra. Curioso que, em 900 páginas, ter citado apenas excertos de cenas de sexo gay...

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  2. Eu li e afinal não descobri quem são as benevolentes...

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  3. Cara Liz (creio):

    Aproveito para agradecer o interesse que manifestaste por este blogue e por tê-lo referenciado no teu. Que aliás já visitei e me agradou bastante. Quanto ao título deste livro, creio que resulta de uma adaptação de "euménides" ou "fúrias", que é também o nome de uma tragédia de Ésquilo.

    Bom Ano Novo

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