Realização: Michelangelo Antonioni; Produção Bridge Films/MGM; Argumento: M. Antonioni e Tonino Guerra,
a partir do conto Las Babas del Diablo, de Julio Cortázar; Música: Herbie Hancock; Com David Hemmings,
Sarah Miles, Vanessa Redgrave, Peter Bowles, John Castle, Jane Birkin e o grupo The Yardbirds.
O filme apresenta-nos o mundo da moda londrina da altura, centrado num fotógrafo de topo, Thomas, (David Hemmings). Numa época em que a associação fotógrafo/modelo se tornou um motivo de culto, associado à pop art a à cultura de massas. Não é por nada que a estilização cruel e a ambiência jazzy de determinados planos evoca La Dolce Vita (1960), de Fellini. Numa das suas deambulações fotográficas, Thomas regista algumas imagens de um casal de namorados, num parque londrino. Entretanto, através da manipulação das fotografias, apercebe-se que, de facto, teria fotografado um assassínio. O significado do título (ampliação fotográfica) torna-se claro, à medida que Thomas repetidamente aumenta, examina e retoca os negativos, até obter as provas do hipotético crime. Evidências que se tornam, à medida que cresce a sua obsessão, cada vez mais obscuras. Ao contrário de um thriller convencional, o filme não oferece uma solução confortável ou apropriada. A suprema ambiguidade da sequência final, junto ao campo de ténis, já faz parte da história do cinema. O espectador nunca saberá, nem Thomas o poderá afirmar, se realmente houve um crime, ou se tudo não foi o produto febril de um tempo, numa grande cidade. Talvez seja mesmo a opção aqui reiterada de Antonioni pela narrativa aberta o que torna este filme tão resistente ao tempo. E porque em nenhum outro provavelmente captou com tal mestria a estranheza no coração da própria realidade.
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