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quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Fumo branco

Deixei de fumar há seis meses. Há quem já esteja há vinte nessa abstinência. O Pedro Rolo Duarte, por exemplo. Tal como ele, abdiquei dessa medalha póstuma para exibir ao espelho, e que diz: "ex-fumador", preferindo ser "um fumador que decidiu não fumar mais". Foi duro, claro. As rotinas tiranizam mais do que os vícios. Sem estes ficamos paralisados. Mas sem as primeiras ficamos despidos. Entre um e outro, "que venha a Inquisição Espanhola", como bradavam os Monthy Python. Claro que as vantagens foram aparecendo: menos cansaço, exercício físico mais extenso, melhor paladar, ritmo cardíaco normalizado, desaparecimento gradual daquele catarro neo-realista matinal (que não raras vezes ainda dá sinal de si), maior tranquilidade nas situações que antes eram interrompidas para o cigarrito, maior disponibilidade para os outros, mais dinamismo. Por outro lado, dou a mão à palmatória e aceito a justeza de uma legislação que restrinja o consumo do tabaco em locais públicos, de forma sensata e sem exageros. Só quem deixa de fumar entende como a percepção do fumo que nos cerca se torna diferente. E isso nada tem a ver com intolerância. Nos restaurantes, os níveis ainda se suportam. Mas nos locais nocturnos é que a coisa se torna complicada. Quando uma noite se prolonga mais um bocado, fico literalmente à mercê do fumo. Daquele que provem dos que me acompanham e de todos os outros fumadores que já passaram pelo local em causa. Isto porque a maioria dos bares ainda não dispõe de um sistema de exaustão eficaz. Ou, então, já tem, mas os proprietários preferem fazer umas poupançazinhas na conta da electricidade. E, neste lote, incluo desde os bares mais humildes até aos sítios de referência. Um deles, que me dispenso de nomear, é o novo ponto de encontro da cidade. Pois há noites em que a ambiência se torna londrina e os sinais permanecem por dois dias nos brônquios. Mas vou poupar os leitores às atribulações de um "antigo combatente". Não sem apontar as incongruências do legislador. É que, por um lado, já pouco falta para a nova "lei seca" entrar em vigor. O que inclui um pacote sancionatório para os prevaricadores. Por outro, a incidência fiscal sobre o tabaco tende a aumentar. Não se compreende, portanto, como os produtos farmacêuticos que auxiliam os que querem deixar o tabaco não são comparticipados pelo Estado. Esta situação já foi denunciada pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia e muitas outras vozes já se ergueram contra este anacronismo, que urge rever. Sabendo-se que estes produtos pesam e de que maneira na bolsa dos consumidores. Apareceu agora um medicamento anti-tabágico de nova geração, chamado Champix. Associado a uma campanha publicitária semi-oculta, protagonizada pelo Diogo Infante. Sem pôr em causa a sua eficácia terapêutica, convido os leitores a ir à página respectiva. Vejam os preços praticados e a lista de efeitos colaterais. Até dá vontade de puxar mais um cigarro para acalmar...

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