Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

domingo, 21 de outubro de 2007

Um ou vários?

Podemos recorrer a vários critérios para arrumar os blogues. Repare-se que falo dos blogues, não do perfil dos bloguistas, embora uma coisa desemboque inevitavelmente na outra. E o universo em análise é determinado por um patamar mínimo, firmado na qualidade e pertinência dos conteúdos. De fora estarão naturalmente os blogues institucionais. Utilizarei então o diapasão mais simples: os números. Quantos bloguistas fazem um blogue? A resposta determina, por conseguinte, dois tipos, os unipessoais e os colectivos.
  1. Os primeiros são, à partida, mais consistentes: têm a marca pessoal do autor gravada no seu ADN; traduzem uma estratégia onde um determinado modelo se torna mais facilmente perceptível, onde os sobressaltos são a excepção; exprimem uma disponibilidade e uma vastidão discursiva que um espaço partilhado não acomoda; permitem um tom confessional que uma pluralidade de vozes anularia e uma total liberdade na gestão do ritmo das actualizações, do modelo, dos comentários e do próprio fim. São, em suma, o meio mais característico e irredutível da intervenção dos cidadãos no ciberespaço.
  2. Os colectivos podem ter qualquer uma das características apontadas. Todavia, como que aparecem diluídas. Não se dá tanto por elas. Neste tipo, é o resultado compósito, a regularidade, o que relamente interessa. Mais até do que a assinatura das postagens. É óbvio que cada blogue encerra uma história particular. Sendo que, nos colectivos, tenho descoberto duas formas típicas de associação. Por um lado, aqueles que nasceram e cresceram à volta de uma projecto editorial, jornalístico, científico, ou artístico, de um movimento de opinião, de uma determinada actividade, da defesa de determinada causa, entre outras razões similares. Por outro lado, aqueles em que os seus autores quiseram dar expressão, no ciberespaço, a uma sólida afinidade pessoal e/ou ideológica. Que não é incompatível, bem pelo contrário, com uma colaboração pontual ou intermitente. Ora, quer num caso quer noutro, abundam blogues de referência, espaços incontornáveis na blogosfera lusa. Mas se a união faz a força, pode não produzir a qualidade que se esperaria. Tenho visto inúmeros casos de blogues colectivos onde desapareceu a homogeneidade (diferente de uniformidade). Onde os próprios autores polemizam entre si, percebendo-se que as suas posições são inconciliáveis e o debate prima pela aridez. Onde, no oposto, abundam as reacções corporativas. Onde a unidade gráfica degenerou numa manta de retalhos. Onde o pulsar de várias vozes descambou numa apagada e vil cacofonia.
Quer tudo isto dizer que sugiro a existência de uma graduação de valor entre as duas categorias? A resposta é claramente negativa, nem a questão é essa. Afirmo, isso sim, que começa a ver-se na blogosfera um fenómeno transportado dos meios de informação convencionais: a concentração como estratégia e condição de visibilidade. Mas, se nuns casos o gregarismo é eficaz, noutros traduz a transformação dos blogues em simples newsgroups, salas de redacção que muitos só utilizam porque sabem que têm uma audiência que num projecto pessoal não alcançariam. Isto é, a descaracterização do todo como reflexo do comodismo das partes.

1 comentário:

  1. Há para aí blogues que, embora muito badalados no meio, mais parecem uma assembleia de accionistas. Espremem espremem, mas vai-se ver e não há nada de realmente motivante. Normalmente são colectivos, como dizes. Com uma ou duas figuras de proa para enganar os incautos...

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