Doris Lessing foi recentemente entrevistada no "The Guardian". Às tantas, afirma a jornalista autora da peça, que "como todos os meios de comunicação ressaltaram, Doris Lessing é apenas a 11ª mulher recompensada entre os 104 laureados do Prémio Nobel da Literatura." Mais à frente, "se Doris Lessing não é uma escolha assim tão surpreendente, talvez seja, entre outras razões, porque ela é, acima de tudo, uma escritora de ideias e de ideais."
Se houvesse um detector de politicamente correcto em cada artigo de jornal ou prelecção académica, era muito difícil não começar logo a apitar com veemência. Neste caso, poupei trabalho ao leitor a aqui ficaram registadas duas pérolas dessa má consciência, que degenerou num whisfull thinking serôdio e totalitário. Em relação à mais básica, a distribuição do prémio pelos géneros, ela fala por si. Mas seria interessante saber quantos dentistas já foram galardoados. E quantos chineses? E quantos esquimós? E quantas donas de casa de Cincinatti? E quantos ex-nadadores-salvadores? E quantos húngaros com pé de atleta? E quantos membros da tribo Massai? A lista seria interminável. De resto, para quem sente a literatura mais perto de si do que a veia do pescoço, como é o caso do escriba, será que um galardão que ignorou Borges, Yourcenar, Lobo Antunes ou Duras tem alguma importância? No entanto, a partir de agora e para minimizar o "escândalo", deveria haver quotas para mulheres nobelizadas. Neste momento, o saldo está em 93-11 a favor desses hirsutos e primitivos usurpadores dos talentos femininos. O que quer dizer que, nos próximos 80 anos, deveriam ser unicamente premiadas mulheres. Ou então, num assomo de liberalidade, os descendentes de Greene, Camus, Hemingway, Mann, Kipling, Beckett, Faulkner, Eliot, Hesse ou Steinbeck, deveriam entregar os prémios a uma associação feminista qualquer, que depois daria conta do recado. Em qualquer caso, as laureadas seriam sempre, de preferência, escritoras de ideias e de ideais. Por essa ordem, claro.
Se houvesse um detector de politicamente correcto em cada artigo de jornal ou prelecção académica, era muito difícil não começar logo a apitar com veemência. Neste caso, poupei trabalho ao leitor a aqui ficaram registadas duas pérolas dessa má consciência, que degenerou num whisfull thinking serôdio e totalitário. Em relação à mais básica, a distribuição do prémio pelos géneros, ela fala por si. Mas seria interessante saber quantos dentistas já foram galardoados. E quantos chineses? E quantos esquimós? E quantas donas de casa de Cincinatti? E quantos ex-nadadores-salvadores? E quantos húngaros com pé de atleta? E quantos membros da tribo Massai? A lista seria interminável. De resto, para quem sente a literatura mais perto de si do que a veia do pescoço, como é o caso do escriba, será que um galardão que ignorou Borges, Yourcenar, Lobo Antunes ou Duras tem alguma importância? No entanto, a partir de agora e para minimizar o "escândalo", deveria haver quotas para mulheres nobelizadas. Neste momento, o saldo está em 93-11 a favor desses hirsutos e primitivos usurpadores dos talentos femininos. O que quer dizer que, nos próximos 80 anos, deveriam ser unicamente premiadas mulheres. Ou então, num assomo de liberalidade, os descendentes de Greene, Camus, Hemingway, Mann, Kipling, Beckett, Faulkner, Eliot, Hesse ou Steinbeck, deveriam entregar os prémios a uma associação feminista qualquer, que depois daria conta do recado. Em qualquer caso, as laureadas seriam sempre, de preferência, escritoras de ideias e de ideais. Por essa ordem, claro.
Publicado no jornal "O Interior"
Contundente...
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